Um país paralisado
É natural que os eleitores rejeitem uma experiência política com a qual convivem no dia-a-dia. O voto de protesto nas europeias é prova disso.
Mas uma coisa é rejeitar o que se vivencia, outra bem mais difícil é rejeitar o que pode vir a existir. Quando José Sócrates foi eleito primeiro-ministro, com uma maioria absoluta que configurava um resultado inédito na história do PS, os portugueses estavam a rejeitar o Governo Durão/Portas e a instabilidade política com Santana Lopes. Os eleitores tinham experimentado um clima de instabilidade e valorizavam a estabilidade.
Essa opção repercutiu-se no voto. Hoje, com uma experiência de mais de quatro anos de maioria absoluta, a estabilidade é um adquirido e não se encontra entre os critérios mais relevantes para a decidir o voto. O lugar ocupado pela estabilidade na formação das preferências eleitorais nas últimas legislativas foi preenchido pelo desemprego. Em política, há poucas mensagens mais difíceis de fazer passar do que conferir importância ao que faz parte do nosso quotidiano. Mas uma coisa é certa, perante uma crise económica e social que não tem paralelo nas últimas décadas, precisaremos mais de estabilidade política no futuro imediato do que necessitámos nos últimos anos. Paradoxalmente, tudo indica que a instabilidade política está ao virar da esquina, quando mais ela era necessária.
O resultado das últimas europeias funcionou como anúncio do que poderá chegar. Não só nunca nenhum partido venceu eleições com um resultado tão baixo (se exceptuarmos as eleições atípicas de 1985, com o epifenómeno PRD), como estamos numa situação em que nenhum bloco político consegue, isoladamente ou em coligação, governar em maioria. Se por mera hipótese académica fosse necessário formar um Governo a partir dos resultados das europeias estaríamos perante uma permanente crise de legitimidade: ou porque o executivo não teria maioria absoluta ou porque não encontraria respaldo social (no caso de um Governo de direita com uma maioria de votos à esquerda).
Mas uma coisa são estes resultados, outra é a antecipação que os portugueses podem fazer do que poderão ser os cenários políticos futuros. A este propósito, a moção de censura que amanhã o CDS apresentará, e que terá o apoio do PSD, sendo uma versão extrema da acusação de falta de legitimidade política do executivo para Governar que surgiu na sequência das europeias, funciona como antevisão do país que poderemos ter daqui a um ano. E a última coisa que nos faltava acrescentar à crise era um país paralisado por uma crise de legitimidade política do Governo. Que seja sugerido que o país pare já, em Junho, quando não haverá novo executivo até Novembro, tem apenas uma virtude: antecipa o que pode ser a paisagem política no próximo ano.
publicado no Diário Económico
Mas uma coisa é rejeitar o que se vivencia, outra bem mais difícil é rejeitar o que pode vir a existir. Quando José Sócrates foi eleito primeiro-ministro, com uma maioria absoluta que configurava um resultado inédito na história do PS, os portugueses estavam a rejeitar o Governo Durão/Portas e a instabilidade política com Santana Lopes. Os eleitores tinham experimentado um clima de instabilidade e valorizavam a estabilidade.
Essa opção repercutiu-se no voto. Hoje, com uma experiência de mais de quatro anos de maioria absoluta, a estabilidade é um adquirido e não se encontra entre os critérios mais relevantes para a decidir o voto. O lugar ocupado pela estabilidade na formação das preferências eleitorais nas últimas legislativas foi preenchido pelo desemprego. Em política, há poucas mensagens mais difíceis de fazer passar do que conferir importância ao que faz parte do nosso quotidiano. Mas uma coisa é certa, perante uma crise económica e social que não tem paralelo nas últimas décadas, precisaremos mais de estabilidade política no futuro imediato do que necessitámos nos últimos anos. Paradoxalmente, tudo indica que a instabilidade política está ao virar da esquina, quando mais ela era necessária.
O resultado das últimas europeias funcionou como anúncio do que poderá chegar. Não só nunca nenhum partido venceu eleições com um resultado tão baixo (se exceptuarmos as eleições atípicas de 1985, com o epifenómeno PRD), como estamos numa situação em que nenhum bloco político consegue, isoladamente ou em coligação, governar em maioria. Se por mera hipótese académica fosse necessário formar um Governo a partir dos resultados das europeias estaríamos perante uma permanente crise de legitimidade: ou porque o executivo não teria maioria absoluta ou porque não encontraria respaldo social (no caso de um Governo de direita com uma maioria de votos à esquerda).
Mas uma coisa são estes resultados, outra é a antecipação que os portugueses podem fazer do que poderão ser os cenários políticos futuros. A este propósito, a moção de censura que amanhã o CDS apresentará, e que terá o apoio do PSD, sendo uma versão extrema da acusação de falta de legitimidade política do executivo para Governar que surgiu na sequência das europeias, funciona como antevisão do país que poderemos ter daqui a um ano. E a última coisa que nos faltava acrescentar à crise era um país paralisado por uma crise de legitimidade política do Governo. Que seja sugerido que o país pare já, em Junho, quando não haverá novo executivo até Novembro, tem apenas uma virtude: antecipa o que pode ser a paisagem política no próximo ano.
publicado no Diário Económico
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