Um referendo nacional
Quando foi dado o tiro de partida para as eleições europeias, o Governo queria a todo o custo evitar transformar este acto eleitoral num referendo ao executivo.
Naturalmente, a oposição tinha o objectivo oposto. Aproveitar as europeias para castigar eleitoralmente o Governo, convidando os eleitores a mostrar um cartão amarelo ao PS. Este objectivo encontrava um contexto adequado nas dificuldades económicas e sociais e na contestação a José Sócrates.
Contudo, a partir de certa altura, o PS abandonou a sua linha inicial e passou ele próprio a querer fazer das europeias um referendo ao Governo e às oposições. Por estranho que possa parecer, a ideia aparenta não ter sido má. Se acreditarmos nos resultados das sondagens, pese embora a distância significativa face à maioria absoluta, esta mudança, consubstanciada na entrada de José Sócrates na campanha, coincide com uma recuperação das intenções de voto no PS. O que parece reflectir uma variável chave para o sucesso dos partidos de Governo neste tipo de eleições: a capacidade de mobilização do seu núcleo duro de eleitores.
Eleições de segunda ordem como as europeias são normalmente vistas pelos eleitores como uma boa oportunidade para penalizar os partidos no poder, com poucos custos para as condições de governabilidade. Em eleições deste tipo, votar noutro partido que não o maioritário pode ser uma opção racional para os eleitores descontentes com a governação mas não totalmente desafectados face ao espaço político do partido no poder. Até porque este voto de protesto, ao mesmo tempo que modera a arrogância própria de quem está no poder, pode obrigar os Governos a inflectirem a sua linha política, acomodando algumas das reivindicações que explicam o descontentamento. Contudo, estudos sobre eleições de segunda ordem revelam que estas são tanto mais negativas para os Governos quanto mais distantes de eleições de primeira ordem. A meio do ciclo legislativo penalizam mais os Governos, mais próximo de eleições para parlamentos nacionais, penalizam menos os partidos no poder.
O caso português parece comprovar estas hipóteses- nas europeias de 1999, próximas das legislativas, o partido no poder venceu e nas de 2004, a meio do ciclo, o partido no poder foi fortemente penalizado. Entretanto, tudo sugere que no próximo Domingo o padrão sairá reforçado, com uma vitória do PS, por uma margem curta, que tenderá a representar o seu mínimo eleitoral neste ciclo político. Ou seja, existirá voto de protesto, mas ele será atenuado pela proximidade das legislativas e pelo espectro da ingovernabilidade. O que sugere que se a campanha se tivesse centrado nos temas europeus, como desejava inicialmente o PS, o mais provável é que os eleitores sentissem bastante menos a associação entre estas eleições e as legislativas que ocorrerão logo a seguir ao Verão.
publicado no no Diário Económico.
Naturalmente, a oposição tinha o objectivo oposto. Aproveitar as europeias para castigar eleitoralmente o Governo, convidando os eleitores a mostrar um cartão amarelo ao PS. Este objectivo encontrava um contexto adequado nas dificuldades económicas e sociais e na contestação a José Sócrates.
Contudo, a partir de certa altura, o PS abandonou a sua linha inicial e passou ele próprio a querer fazer das europeias um referendo ao Governo e às oposições. Por estranho que possa parecer, a ideia aparenta não ter sido má. Se acreditarmos nos resultados das sondagens, pese embora a distância significativa face à maioria absoluta, esta mudança, consubstanciada na entrada de José Sócrates na campanha, coincide com uma recuperação das intenções de voto no PS. O que parece reflectir uma variável chave para o sucesso dos partidos de Governo neste tipo de eleições: a capacidade de mobilização do seu núcleo duro de eleitores.
Eleições de segunda ordem como as europeias são normalmente vistas pelos eleitores como uma boa oportunidade para penalizar os partidos no poder, com poucos custos para as condições de governabilidade. Em eleições deste tipo, votar noutro partido que não o maioritário pode ser uma opção racional para os eleitores descontentes com a governação mas não totalmente desafectados face ao espaço político do partido no poder. Até porque este voto de protesto, ao mesmo tempo que modera a arrogância própria de quem está no poder, pode obrigar os Governos a inflectirem a sua linha política, acomodando algumas das reivindicações que explicam o descontentamento. Contudo, estudos sobre eleições de segunda ordem revelam que estas são tanto mais negativas para os Governos quanto mais distantes de eleições de primeira ordem. A meio do ciclo legislativo penalizam mais os Governos, mais próximo de eleições para parlamentos nacionais, penalizam menos os partidos no poder.
O caso português parece comprovar estas hipóteses- nas europeias de 1999, próximas das legislativas, o partido no poder venceu e nas de 2004, a meio do ciclo, o partido no poder foi fortemente penalizado. Entretanto, tudo sugere que no próximo Domingo o padrão sairá reforçado, com uma vitória do PS, por uma margem curta, que tenderá a representar o seu mínimo eleitoral neste ciclo político. Ou seja, existirá voto de protesto, mas ele será atenuado pela proximidade das legislativas e pelo espectro da ingovernabilidade. O que sugere que se a campanha se tivesse centrado nos temas europeus, como desejava inicialmente o PS, o mais provável é que os eleitores sentissem bastante menos a associação entre estas eleições e as legislativas que ocorrerão logo a seguir ao Verão.
publicado no no Diário Económico.
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