O espectro da ingovernabilidade
Os 26% que o PS conquistou nestas eleições colocam o partido próximo dos seus mínimos históricos de 1985 e 1987 e representam, em votos expressos – menos de um milhão –, o resultado mais baixo do PS de sempre.
Contudo, ao contrário do que costuma ser regra, o decréscimo de um dos partidos de poder (no caso o PS), não ocorreu à custa do seu mais próximo competidor (no caso o PSD). O PS tem uma votação muito baixa, mas o PSD, ganhando, cresce pouco por relação às últimas eleições nacionais (teve 31%, quando com Santana tinha tido 28%). Isto enquanto o BE e o PCP somados ultrapassam largamente a melhor votação que o PCP alguma vez teve (18% em 1979 e 1983). A menos que algo de extraordinário ocorra até Setembro, nenhum partido terá uma maioria absoluta para governar.
Estamos perante um cenário de pulverização partidária, em que se consolidaram três blocos políticos. No entanto, não apenas nenhum destes blocos tem condições para governar sozinho (PSD e CDS, mesmo que coligados, estão ainda distantes da maioria absoluta), como, simultaneamente, as condições para que venham a coligar-se estão longe de estar reunidas (a título de exemplo, ainda este fim de semana, o BE reclamava a saída de Portugal da NATO, o que serve para recordar a profundidade das rupturas que o BE tem de fazer para se aproximar do espaço da governabilidade). Além do mais, se os resultados de ontem se repetissem em legislativas, a única coligação de dois partidos suficiente para formar uma maioria seria entre PS e PSD.
Não sabemos se com as europeias o que esteve em causa foi essencialmente a mobilização de voto de protesto face a um Governo que construiu a sua imagem com um discurso de confronto às corporações e que se revelou impotente para contrariar a crise económica e o crescimento do desemprego - e que com isso desbaratou o seu capital junto da esquerda sociológica - ou se, pelo contrário, estamos perante um novo ciclo político, em que o centro-direita inverte a tendência eleitoral recente. Mas uma coisa sabemos, a pulverização partidária, a somar à crise económica e social, e, em particular, o facto de PS e PSD terem resultados conjugados particularmente baixos - só superiores à percentagem alcançada em 1985, com o PRD - é um passo para a reconfiguração do espectro partidário português. Não vejo como essa reconfiguração possa ocorrer sem pôr em causa a governabilidade do país e sem contribuir para o aprofundamento da crise que vivemos.
No fim, fica uma dúvida: os eleitores expressaram o seu protesto mas, quando estiver em causa a governação do país, voltaremos à bipartidarização ou, pelo contrário, os três blocos, que vivem de costas voltadas, vieram para ficar?
publicado no Diário Económico.
Contudo, ao contrário do que costuma ser regra, o decréscimo de um dos partidos de poder (no caso o PS), não ocorreu à custa do seu mais próximo competidor (no caso o PSD). O PS tem uma votação muito baixa, mas o PSD, ganhando, cresce pouco por relação às últimas eleições nacionais (teve 31%, quando com Santana tinha tido 28%). Isto enquanto o BE e o PCP somados ultrapassam largamente a melhor votação que o PCP alguma vez teve (18% em 1979 e 1983). A menos que algo de extraordinário ocorra até Setembro, nenhum partido terá uma maioria absoluta para governar.
Estamos perante um cenário de pulverização partidária, em que se consolidaram três blocos políticos. No entanto, não apenas nenhum destes blocos tem condições para governar sozinho (PSD e CDS, mesmo que coligados, estão ainda distantes da maioria absoluta), como, simultaneamente, as condições para que venham a coligar-se estão longe de estar reunidas (a título de exemplo, ainda este fim de semana, o BE reclamava a saída de Portugal da NATO, o que serve para recordar a profundidade das rupturas que o BE tem de fazer para se aproximar do espaço da governabilidade). Além do mais, se os resultados de ontem se repetissem em legislativas, a única coligação de dois partidos suficiente para formar uma maioria seria entre PS e PSD.
Não sabemos se com as europeias o que esteve em causa foi essencialmente a mobilização de voto de protesto face a um Governo que construiu a sua imagem com um discurso de confronto às corporações e que se revelou impotente para contrariar a crise económica e o crescimento do desemprego - e que com isso desbaratou o seu capital junto da esquerda sociológica - ou se, pelo contrário, estamos perante um novo ciclo político, em que o centro-direita inverte a tendência eleitoral recente. Mas uma coisa sabemos, a pulverização partidária, a somar à crise económica e social, e, em particular, o facto de PS e PSD terem resultados conjugados particularmente baixos - só superiores à percentagem alcançada em 1985, com o PRD - é um passo para a reconfiguração do espectro partidário português. Não vejo como essa reconfiguração possa ocorrer sem pôr em causa a governabilidade do país e sem contribuir para o aprofundamento da crise que vivemos.
No fim, fica uma dúvida: os eleitores expressaram o seu protesto mas, quando estiver em causa a governação do país, voltaremos à bipartidarização ou, pelo contrário, os três blocos, que vivem de costas voltadas, vieram para ficar?
publicado no Diário Económico.
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