Rupturas à esquerda
O resultado das europeias criou uma grande responsabilidade aos partidos de esquerda: criar condições de governabilidade a partir de uma maioria eleitoral. Não é fácil e implica várias rupturas.
O PS, depois de ter tido um resultado que é, em votos expressos, o mais baixo de sempre e em percentagem só ultrapassado pelos seus mínimos históricos de 1985 e 1987, precisa de reflectir sobre a narrativa política que desenvolveu nesta legislatura e sobre o modo como olha para esta crise.
Esta dupla reflexão implica que o PS não se limite a manter o rumo seguido, numa estratégia cega perante o que os portugueses pensam e insensível à dimensão da crise internacional.
Durante muito tempo, o sucesso do actual Governo foi atribuído ao modo como combatia os interesses corporativos. Os resultados eleitorais vêm revelar que, em democracia, não é possível reformar eficazmente sem estabelecer coligações sociais. Por exemplo, tomar o movimento sindical como adversário é impensável para um partido de centro-esquerda. Por outro lado, esta crise requer soluções que não sejam repetições do passado e obriga a que o centro-esquerda reflicta, de facto, sobre o seu papel na construção dos modelos de regulação que nos trouxeram até aqui.
Os partidos de extrema esquerda têm uma responsabilidade não menor. Com um resultado que supera os pontos mais altos do PC (em 1979), contraíram a obrigação de transformar voto de protesto em mudança efectiva. Para tal, precisam, antes de tudo, de abandonar a tradição de escolher o PS como adversário preferencial e recentrar as suas reivindicações programáticas (por exemplo, o absurdo de exigir a saída de Portugal da NATO).
Serão capazes? Acho muito difícil, como prova a experiência autárquica em Lisboa. Mas uma coisa é certa, os eleitores não perdoarão que o esforço não seja feito.
versão integral de um texto publicado hoje no Diário de Notícias.
O PS, depois de ter tido um resultado que é, em votos expressos, o mais baixo de sempre e em percentagem só ultrapassado pelos seus mínimos históricos de 1985 e 1987, precisa de reflectir sobre a narrativa política que desenvolveu nesta legislatura e sobre o modo como olha para esta crise.
Esta dupla reflexão implica que o PS não se limite a manter o rumo seguido, numa estratégia cega perante o que os portugueses pensam e insensível à dimensão da crise internacional.
Durante muito tempo, o sucesso do actual Governo foi atribuído ao modo como combatia os interesses corporativos. Os resultados eleitorais vêm revelar que, em democracia, não é possível reformar eficazmente sem estabelecer coligações sociais. Por exemplo, tomar o movimento sindical como adversário é impensável para um partido de centro-esquerda. Por outro lado, esta crise requer soluções que não sejam repetições do passado e obriga a que o centro-esquerda reflicta, de facto, sobre o seu papel na construção dos modelos de regulação que nos trouxeram até aqui.
Os partidos de extrema esquerda têm uma responsabilidade não menor. Com um resultado que supera os pontos mais altos do PC (em 1979), contraíram a obrigação de transformar voto de protesto em mudança efectiva. Para tal, precisam, antes de tudo, de abandonar a tradição de escolher o PS como adversário preferencial e recentrar as suas reivindicações programáticas (por exemplo, o absurdo de exigir a saída de Portugal da NATO).
Serão capazes? Acho muito difícil, como prova a experiência autárquica em Lisboa. Mas uma coisa é certa, os eleitores não perdoarão que o esforço não seja feito.
versão integral de um texto publicado hoje no Diário de Notícias.
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