Um “Annus Horribilis”
O pior está para vir. Na verdade, é hoje difícil antecipar a dimensão da crise, bem como toda a sua extensão. Sabemos que é diferente das crises anteriores, ainda que sejam encontrados cada dia mais paralelismos com a terrível depressão dos anos 30. Hoje, dificilmente alguém dirá que já batemos no fundo e que nos encontramos no início da trajectória ascendente. O ano de 2009 será por isso um “annus horribilis”, económica e socialmente. Um pouco por tudo o mundo, os efeitos da crise far-se-ão sentir. Mas a crise, como todos os choques, não afecta todos do mesmo modo. Há países mais expostos à crise, bem como pessoas e grupos sociais.
Portugal é um país muito exposto: uma pequena economia, aberta e muito dependente de um número reduzido de parceiros comerciais; com uma estrutura social com défices de qualificação muito acentuados; e um Estado, mas, também, agentes privados com fraca capacidade institucional (do sector bancário ao tecido produtivo).
Mas estaremos hoje melhor preparados do que no passado recente para enfrentar as tormentas que se avizinham?
A resposta é positiva – o que não diminui a gravidade do que poderá acontecer no próximo ano.
Estamos integrados num espaço económico que nos protege, desde logo pela função estabilizadora da moeda única; as nossas contas públicas estão incomparavelmente mais equilibradas; e, nos últimos anos, as políticas públicas têm intervindo – com relativo, mas sempre insuficiente sucesso – sobre factores críticos (dos défices de qualificação dos activos, passando pela pobreza extrema do idosos, até alguma mudança no padrão de especialização da nossa economia).
Esta é também uma crise à qual não se responde apenas com as respostas habituais. O que seria errado num contexto normal passou a ser absolutamente necessário no contexto em que vivemos: à cabeça apoiar directamente o emprego privado, protegendo-o para além do que seria avisado. Não vivemos tempos normais, pelo que precisamos de respostas excepcionais. A crise já será difícil de enfrentar, mas se o fizermos com crescimento acentuado do desemprego, os próximos meses (anos?) tornar-se-ão social e politicamente insustentáveis. Temos assistido a apoios públicos, aos quais não estávamos habituados, a alguma empresas e sectores particularmente sensíveis. O mais provável é passarmos destes apoios para os apoios directos ao emprego e até, porque não, às classes médias de menores rendimentos.
Portugal terá a singularidade de num ano de crise ter três actos eleitorais. Nunca a suspensão da democracia foi boa conselheira, muito menos nos momentos difíceis. Mas as eleições serão responsabilizadoras para todos nós – os que votam e os que serão eleitos. O pior que poderíamos fazer era somar instabilidade política às dificuldades económicas e sociais. O que acarreta, desde logo, uma enorme responsabilidade para os actores políticos que, se nada mais e por causa da crise, deveriam evitar, a tudo custo, envolver-se em conflitos estéreis.
Será um ano difícil, mas, como em todos os momentos difíceis, é dos políticos e das políticas que deveremos esperar respostas responsáveis. Esperemos que os tempos difíceis sejam também reveladores das nossas capacidades colectivas.
publicado no 24 Horas
Portugal é um país muito exposto: uma pequena economia, aberta e muito dependente de um número reduzido de parceiros comerciais; com uma estrutura social com défices de qualificação muito acentuados; e um Estado, mas, também, agentes privados com fraca capacidade institucional (do sector bancário ao tecido produtivo).
Mas estaremos hoje melhor preparados do que no passado recente para enfrentar as tormentas que se avizinham?
A resposta é positiva – o que não diminui a gravidade do que poderá acontecer no próximo ano.
Estamos integrados num espaço económico que nos protege, desde logo pela função estabilizadora da moeda única; as nossas contas públicas estão incomparavelmente mais equilibradas; e, nos últimos anos, as políticas públicas têm intervindo – com relativo, mas sempre insuficiente sucesso – sobre factores críticos (dos défices de qualificação dos activos, passando pela pobreza extrema do idosos, até alguma mudança no padrão de especialização da nossa economia).
Esta é também uma crise à qual não se responde apenas com as respostas habituais. O que seria errado num contexto normal passou a ser absolutamente necessário no contexto em que vivemos: à cabeça apoiar directamente o emprego privado, protegendo-o para além do que seria avisado. Não vivemos tempos normais, pelo que precisamos de respostas excepcionais. A crise já será difícil de enfrentar, mas se o fizermos com crescimento acentuado do desemprego, os próximos meses (anos?) tornar-se-ão social e politicamente insustentáveis. Temos assistido a apoios públicos, aos quais não estávamos habituados, a alguma empresas e sectores particularmente sensíveis. O mais provável é passarmos destes apoios para os apoios directos ao emprego e até, porque não, às classes médias de menores rendimentos.
Portugal terá a singularidade de num ano de crise ter três actos eleitorais. Nunca a suspensão da democracia foi boa conselheira, muito menos nos momentos difíceis. Mas as eleições serão responsabilizadoras para todos nós – os que votam e os que serão eleitos. O pior que poderíamos fazer era somar instabilidade política às dificuldades económicas e sociais. O que acarreta, desde logo, uma enorme responsabilidade para os actores políticos que, se nada mais e por causa da crise, deveriam evitar, a tudo custo, envolver-se em conflitos estéreis.
Será um ano difícil, mas, como em todos os momentos difíceis, é dos políticos e das políticas que deveremos esperar respostas responsáveis. Esperemos que os tempos difíceis sejam também reveladores das nossas capacidades colectivas.
publicado no 24 Horas
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