Comentário
Para utilizar uma expressão de Manuel Alegre, há um “tabu” essencial que não foi quebrado no encontro de ontem e que impossibilita qualquer tipo de “entendimento” entre as esquerdas. Um tabu que tem lastro histórico. Ontem como no passado, a convergência à esquerda assenta invariavelmente no pressuposto que as políticas dos governos PS são de direita.
A escolha do PS como principal adversário das outras esquerdas tem, desde logo, dificultado a consolidação de uma coligação política e social que permita enfrentar com robustez alguns dos problemas que o País enfrenta.
Mas este velho tabu, que agora adquiriu novos contornos, tem outras consequências, não menos negativas.
Em primeiro lugar, cria incentivos objectivos para que o PS procure enraizar-se eleitoralmente à sua direita (o que fragiliza o já de si frágil encastramento social dos partidos portugueses) e, em segundo lugar, abre o caminho para uma pulverização eleitoral das esquerdas (o que diminui as condições de governabilidade à esquerda).
Perante o actual impasse, há sinais de que a saída possível para o “encontro das esquerdas” seja semelhante ao que se passou na Alemanha, com o Linke de Lafontaine. Talvez valha a pena recordar as consequências daquela cisão: uma situação de ingovernabilidade e uma coligação de “bloco central”. Se em Portugal for percorrido esse caminho, estou certo que ouviremos muitos dos que agora criticam indiferenciadamente as políticas do actual governo, a defender muitas delas como tendo sido de esquerda.
publicado no Diário de Notícias.
A escolha do PS como principal adversário das outras esquerdas tem, desde logo, dificultado a consolidação de uma coligação política e social que permita enfrentar com robustez alguns dos problemas que o País enfrenta.
Mas este velho tabu, que agora adquiriu novos contornos, tem outras consequências, não menos negativas.
Em primeiro lugar, cria incentivos objectivos para que o PS procure enraizar-se eleitoralmente à sua direita (o que fragiliza o já de si frágil encastramento social dos partidos portugueses) e, em segundo lugar, abre o caminho para uma pulverização eleitoral das esquerdas (o que diminui as condições de governabilidade à esquerda).
Perante o actual impasse, há sinais de que a saída possível para o “encontro das esquerdas” seja semelhante ao que se passou na Alemanha, com o Linke de Lafontaine. Talvez valha a pena recordar as consequências daquela cisão: uma situação de ingovernabilidade e uma coligação de “bloco central”. Se em Portugal for percorrido esse caminho, estou certo que ouviremos muitos dos que agora criticam indiferenciadamente as políticas do actual governo, a defender muitas delas como tendo sido de esquerda.
publicado no Diário de Notícias.
<< Home