Os improváveis entendimentos à esquerda
O código genético da esquerda portuguesa é marcado pela competitividade interna. Somar intenções de voto entre PCP, BE e PS significa, por isso, juntar o que não é historicamente conciliável. Estarão agora a mudar os termos desta relação? A resposta é não.
O essencial do entendimento entre as esquerdas continua a depender de uma hipotética capitulação do maior partido de esquerda às mãos de partidos social e eleitoralmente menos representativos. Ou seja, o PS deveria, em última análise, adoptar o programa político proposto pelas outras esquerdas. Uma espécie de versão revista da estratégia “entrista”.
A ideia de entendimento tem implícita uma comunidade de propósito para a partilha de um conjunto de objectivos e de processos para o alcançar. A escolha do PS como principal adversário das outras esquerdas tem, aliás, objectivamente dificultado a consolidação de uma coligação social e política ampla que permita enfrentar com robustez alguns dos problemas que precisam de esquerda, maxime o combate às desigualdades sociais.
Acontece que não se combatem as desigualdades de hoje com os instrumentos do passado. Precisamos de mecanismos de regulação do mercado de trabalho sensíveis à transição para uma sociedade pós-industrial, de modernizar a protecção social de modo a compatibilizá-la com as transformações demográficas e de encontrar novas formas de qualificar os activos. O problema é que, por exemplo, enquanto não for abandonada a posição conservadora e retórica que trata a “flexigurança”, a sustentabilidade da segurança social ou as “novas oportunidades” para os activos como “políticas de direita”, dificilmente as esquerdas poderão trocar ideias sobre entendimentos.
publicado no Semanário Económico.
O essencial do entendimento entre as esquerdas continua a depender de uma hipotética capitulação do maior partido de esquerda às mãos de partidos social e eleitoralmente menos representativos. Ou seja, o PS deveria, em última análise, adoptar o programa político proposto pelas outras esquerdas. Uma espécie de versão revista da estratégia “entrista”.
A ideia de entendimento tem implícita uma comunidade de propósito para a partilha de um conjunto de objectivos e de processos para o alcançar. A escolha do PS como principal adversário das outras esquerdas tem, aliás, objectivamente dificultado a consolidação de uma coligação social e política ampla que permita enfrentar com robustez alguns dos problemas que precisam de esquerda, maxime o combate às desigualdades sociais.
Acontece que não se combatem as desigualdades de hoje com os instrumentos do passado. Precisamos de mecanismos de regulação do mercado de trabalho sensíveis à transição para uma sociedade pós-industrial, de modernizar a protecção social de modo a compatibilizá-la com as transformações demográficas e de encontrar novas formas de qualificar os activos. O problema é que, por exemplo, enquanto não for abandonada a posição conservadora e retórica que trata a “flexigurança”, a sustentabilidade da segurança social ou as “novas oportunidades” para os activos como “políticas de direita”, dificilmente as esquerdas poderão trocar ideias sobre entendimentos.
publicado no Semanário Económico.
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