terça-feira, agosto 12, 2008

Dupla Activação

Os incidentes da Quinta da Fonte vieram revelar que uma parte dos habitantes de um bairro social (largamente minoritária) não só violava a lei, como não cumpria obrigações básicas, desde logo pagar as rendas à autarquia. Os dados que o DE hoje apresenta confirmam isso mesmo: muitos dos que vivem em bairros sociais incumprem nas suas obrigações. O que devem os poderes públicos fazer perante isto?
A resposta não é fácil e remete para dilemas políticos e morais centrais sobre como lidar com a pobreza.
Nas últimas semanas tem sido sugerido por alguns comentadores, retomando uma linhagem ideológica com arreigadas tradições, que o facto dos pobres se “portarem mal” é resultado da cultura de dependência associada ao Estado Social. Consequentemente, o modo mais eficaz para começarem a portar-se bem seria diminuir a responsabilidade pública e, pressupõe-se, abandonar os pobres à sua sorte. Esta opção tem um singelo problema: já foi tentada durante vários milénios e assentou invariavelmente numa relação com a pobreza que combinou controlo policial com ghettização dos excluídos. O resultado histórico foi a criação de sociedades muito divididas, com escassa mobilidade social e com um tratamento moralmente inaceitável dos que estavam condenados a ficar de fora.
A alternativa é a que as sociedade ocidentais desde pelo menos meados do século XX têm prosseguido. Procurar promover condições para a integração social de todos, quebrando a reprodução geracional da pobreza. Claro que é uma opção que falha muitas vezes, mas que tem um notável historial de casos individuais de sucesso para apresentar. Mas é também uma opção exigente para as políticas e que não pode nunca viver à sombra dos seus louros.
versão editada publicada no Diário Económico.