Quando o efeito se torna causa
Quando ao fim de dois anos a popularidade do Governo Sócrates começa a consolidar uma tendência de baixa, custa a perceber a situação em que o PSD se encontra. Há, contudo, várias causas explicativas. Algumas das quais não são da responsabilidade do PSD – por exemplo, as circunstâncias do exercício da oposição em Portugal e o reposicionamento do PS, que é hoje percepcionado como o partido do poder e do reformismo, lugar outrora ocupado pelo PSD. Ainda assim, grande parte dos males que afectam hoje o maior partido da oposição são da sua exclusiva responsabilidade.
Desde logo a experiência governativa Barroso/Portas/Santana, que persiste na memória dos portugueses e sobre a qual o PSD, de facto, nunca reflectiu. É verdade que a afirmação de Marques Mendes foi feita como contraponto a Santana Lopes. O problema é que o declínio eleitoral do PSD e a sua incapacidade de corporizar o descontentamento face ao Governo não têm a ver com Santana Lopes. Este pode ter sido responsável por um conjunto de episódios que marcaram a imagem do partido, mas o essencial da desafectação eleitoral do PSD já vinha de trás, do Governo Barroso/Portas.
Aliás, o destino ficou logo traçado com o discurso inicial, do “país de tanga”. A partir de então, o PSD ficou preso pela incapacidade de conciliar a preocupação com o défice orçamental com iniciativa reformista noutras áreas das políticas públicas. Este quadro, combinado com um discurso ideologicamente contaminado pelo PP nas áreas sociais e com o apoio à invasão do Iraque, afastou o PSD do seu espaço eleitoral tradicional. E, como é sabido, perder eleitores é bem mais fácil do que recuperá-los.
Claro que as responsabilidades de Santana Lopes não podem ser minimizadas. Antes de mais porque se há imagem que não pode estar associada a um partido de centro-direita é a da ingovernabilidade. E depois de Santana Lopes, sobre o PSD, ficou a pairar o espectro da ingovernabilidade. É por isso mesmo que os episódios que levaram à implosão da vereação em Lisboa foram particularmente graves. Com a queda de Carmona Rodrigues, promovida pelo próprio PSD, a ingovernabilidade deixou de estar associada apenas a Santana Lopes e passou a fazer parte da identidade recente do PSD. Com a gestão politicamente desastrosa que levou a cabo em Lisboa, Marques Mendes recolocou o partido onde Santana Lopes o havia deixado.
Perante este cenário, os resultados do passado domingo e a abertura de uma crise interna eram uma inevitabilidade. Marcado pelo lastro do Governo Barroso/Portas e pela ingovernabilidade com Santana/Carmona, o PSD tinha poucas hipóteses de corporizar e representar o descontentamento face a José Sócrates. Se a isto somarmos a inabilidade política que Marques Mendes revelou, percebe-se os 15% que o PSD alcançou.
O problema é que, uma vez aberta a questão interna, a disponibilidade do partido para discutir as verdadeiras causas do seu fracasso eleitoral torna-se ainda menor. Nos próximos tempos, assistiremos a um PSD fechado sobre si próprio e absorvido por questões estatutárias. Nisto, sairá reforçada a ideia de que nada distingue os putativos candidatos à liderança do partido. Embrenhados em discussões processuais, o espaço para uma estratégia de demarcação entre eles torna-se mais exíguo.
Entre avanços e recuos de candidatos, notícias em ‘off’ nos jornais, acusações de cacicagem de parte a parte e arrebanhamento de sindicatos de voto, ouviremos dizer que estas são as razões por detrás do declínio do PSD e explicam a sua incapacidade enquanto maior partido da oposição. Acontece que não é assim: o principal problema do PSD é, sim, nunca ter reflectido sobre as verdadeiras causas da situação em que se encontra actualmente. Resta saber se agora já não será tarde de mais e o que era efeito (uma liderança fragilizada, um partido fechado sobre si mesmo e incapaz de falar para fora) não passará a ser também causa. Se assim for, e com um PS sem competidor, arriscamo-nos, em 2009, a ter umas legislativas pouco mobilizadoras e com níveis de abstenção a lembrar as intercalares de Lisboa.
publicado em Diário Económico.
Desde logo a experiência governativa Barroso/Portas/Santana, que persiste na memória dos portugueses e sobre a qual o PSD, de facto, nunca reflectiu. É verdade que a afirmação de Marques Mendes foi feita como contraponto a Santana Lopes. O problema é que o declínio eleitoral do PSD e a sua incapacidade de corporizar o descontentamento face ao Governo não têm a ver com Santana Lopes. Este pode ter sido responsável por um conjunto de episódios que marcaram a imagem do partido, mas o essencial da desafectação eleitoral do PSD já vinha de trás, do Governo Barroso/Portas.
Aliás, o destino ficou logo traçado com o discurso inicial, do “país de tanga”. A partir de então, o PSD ficou preso pela incapacidade de conciliar a preocupação com o défice orçamental com iniciativa reformista noutras áreas das políticas públicas. Este quadro, combinado com um discurso ideologicamente contaminado pelo PP nas áreas sociais e com o apoio à invasão do Iraque, afastou o PSD do seu espaço eleitoral tradicional. E, como é sabido, perder eleitores é bem mais fácil do que recuperá-los.
Claro que as responsabilidades de Santana Lopes não podem ser minimizadas. Antes de mais porque se há imagem que não pode estar associada a um partido de centro-direita é a da ingovernabilidade. E depois de Santana Lopes, sobre o PSD, ficou a pairar o espectro da ingovernabilidade. É por isso mesmo que os episódios que levaram à implosão da vereação em Lisboa foram particularmente graves. Com a queda de Carmona Rodrigues, promovida pelo próprio PSD, a ingovernabilidade deixou de estar associada apenas a Santana Lopes e passou a fazer parte da identidade recente do PSD. Com a gestão politicamente desastrosa que levou a cabo em Lisboa, Marques Mendes recolocou o partido onde Santana Lopes o havia deixado.
Perante este cenário, os resultados do passado domingo e a abertura de uma crise interna eram uma inevitabilidade. Marcado pelo lastro do Governo Barroso/Portas e pela ingovernabilidade com Santana/Carmona, o PSD tinha poucas hipóteses de corporizar e representar o descontentamento face a José Sócrates. Se a isto somarmos a inabilidade política que Marques Mendes revelou, percebe-se os 15% que o PSD alcançou.
O problema é que, uma vez aberta a questão interna, a disponibilidade do partido para discutir as verdadeiras causas do seu fracasso eleitoral torna-se ainda menor. Nos próximos tempos, assistiremos a um PSD fechado sobre si próprio e absorvido por questões estatutárias. Nisto, sairá reforçada a ideia de que nada distingue os putativos candidatos à liderança do partido. Embrenhados em discussões processuais, o espaço para uma estratégia de demarcação entre eles torna-se mais exíguo.
Entre avanços e recuos de candidatos, notícias em ‘off’ nos jornais, acusações de cacicagem de parte a parte e arrebanhamento de sindicatos de voto, ouviremos dizer que estas são as razões por detrás do declínio do PSD e explicam a sua incapacidade enquanto maior partido da oposição. Acontece que não é assim: o principal problema do PSD é, sim, nunca ter reflectido sobre as verdadeiras causas da situação em que se encontra actualmente. Resta saber se agora já não será tarde de mais e o que era efeito (uma liderança fragilizada, um partido fechado sobre si mesmo e incapaz de falar para fora) não passará a ser também causa. Se assim for, e com um PS sem competidor, arriscamo-nos, em 2009, a ter umas legislativas pouco mobilizadoras e com níveis de abstenção a lembrar as intercalares de Lisboa.
publicado em Diário Económico.
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