terça-feira, setembro 04, 2012

O ano de todas as responsabilidades


Esta semana, na rentrée do PSD, Passos Coelho terá de começar a traçar as linhas mestras da proposta orçamental. Depois de 2012 ter ficado longe de ser o “ponto de viragem” que Vítor Gaspar anunciou vagarosamente, com a estratégia de austeridade expansionista a falhar de forma colossal na receita e sem poder recorrer de novo aos cortes na despesa com salários de funcionários públicos e pensionistas, o Governo tem diante de si um exercício quase impossível. Uma diminuição do défice adicional de 6 mil milhões de euros, depois do fracasso anunciado da execução orçamental deste ano (que nunca será inferior a 2 mil milhões), e com o regresso aos mercados previsto para Setembro de 2013. É uma tarefa hercúlea face à qual o Governo terá de assumir todas as responsabilidades, já não podendo socorrer-se do sempre eficaz jogo de passa-culpas.
Passado 2012, o mantra de que a “culpa é do Sócrates” tenderá a perder eficácia e a ausência de reservas ideológicas em relação à troika torna o Executivo responsável pela caminho seguido. Em 2013 não haverá vida política para além do orçamento e Passos Coelho será avaliado pelos critérios que ele próprio definiu. Preso entre a espada e a parede, resta saber se para cumprir a meta dos 3% a opção será, como sugeriu após a decisão do Tribunal Constitucional, aumentar ainda mais a carga fiscal ou regressar à lengalenga dos cortes nas gorduras do Estado. O primeiro caminho arruína a credibilidade do Governo, já o segundo tem um fascínio populista mas também um impacto marginal nas contas públicas. 
texto de antecipação do discurso do Pontal, publicado no Expresso de 11 de Agosto