quinta-feira, julho 19, 2012

O que fazer quando tudo falha?


Como todos sabemos, há poucas coisas tão difíceis de lidar como com o nosso fracasso individual. Demoramos a perceber que falhámos e ainda mais a reconhecer os motivos do falhanço. Até nos reerguermos e tentarmos de novo, precisamos de nos consciencializar que as coisas correram mal e foram diferentes do que imaginávamos. Com a política não é diferente. Ninguém lida bem com o fracasso das suas escolhas e, naturalmente, recusa aceitar os erros.
Se olharmos para a história da política portuguesa dos últimos tempos ficamos com a sensação de que assenta numa recusa: ninguém quer reconhecer o falhanço. Mais um falhanço.
Afinal, apenas há um ano os portugueses escolhiam esmagadoramente dois partidos que anunciavam uma nova esperança com uma solução mirífica para os nossos problemas colectivos, que não implicava mais sacrifícios. Depois, foi-nos apresentado um governo enxuto, onde se destacava um ministro das Finanças com um perfil técnico inabalável, que oferecia competência e rigor, coadjuvado por um conjunto de personalidades com uma credibilidade pessoal à prova de bala. Para além do mais, este governo não estava sozinho, tinha como pano de fundo da sua acção, era-nos dito, um documento de trabalho extraordinário – o memorando de entendimento. Um programa político que nos foi apresentado como não tendo paralelo na nossa democracia. Em poucas semanas, meia dúzia de peritos estrangeiros conseguiu fazer o que gerações de políticos portugueses não haviam feito: traçar um mapa das reformas estruturais que o país aguardava há décadas. 
Como é que é possível estarmos hoje como estamos? Os sacrifícios, ao contrário do prometido, tornaram-se uma realidade, com cortes de pensões e salários, aumento de impostos (confisco fiscal, para usar a expressão tantas vezes utilizada no passado) e desemprego galopante; os casos Relvas não só transformaram os incidentes do passado numa miragem distante, como contaminaram todo o governo e em especial o seu irmão de percurso de poder, Passos Coelho; o governo enxuto não dá conta do recado e o ministro competente falha todas as previsões e não consegue controlar a execução orçamental; finalmente, a troika vai-se avaliando a si própria e insiste que está tudo bem, para depois ser rapidamente desmentida pela execução orçamental. Enquanto isso, à volta, na Europa, tudo arde.
Mas uma coisa é o falhanço de facto, outra bem diferente é colectivamente admitirmos esse falhanço. Há, naturalmente, uma dificuldade individual em reconhecermos que as coisas correram ao contrário do que esperávamos. Mas há uma outra dimensão bem mais preocupante: não aceitamos o falhanço porque não sabemos como poderia ter sido diferente e de que modo poderão as coisas mudar no futuro imediato. Enquanto este bloqueio não for ultrapassado, continuaremos a querer acreditar que Passos Coelho sabe o que está a fazer, que Vítor Gaspar é competente e que a solução da troika um dia funcionará. Temos de nos agarrar a qualquer coisa, pois, sabemos bem, lidar com as desilusões é bem mais difícil do que com os sucessos.
 publicado no Expresso de 14 de Julho