Descer a Avenida
Entrámos na normalidade: o governo é penalizado nas sondagens e a contestação social aumenta. Hoje, dezenas de milhar de pessoas descerão a Avenida e nos próximos tempos a mobilização sindical intensificar-se-á. Faz sentido. Todas as crises são assimétricas, penalizam mais uns do que outros. Mas a crise tem servido para revelar também o profundo desajustamento entre a resposta política e o que seria necessário para lhe responder eficazmente. O movimento sindical mobiliza-se, os portugueses revelam o seu descontentamento, mas, temo dizê-lo, no essencial, não está nas mãos do governo a possibilidade de inverter a situação. O problema é que a crescente impotência dos governos nacionais coexiste com uma disputa política que se mantém presa às fronteiras do Estado-nação. Não temos uma Europa que reproduza as clivagens políticas tradicionais e nem sequer temos líderes europeus que consigam compensar essa insuficiência (como aconteceu no passado, com o eixo Kohl/Mitterrand, coadjuvados por Delors). Mas, para além da miséria dos outros, temos também a nossa miséria nacional. Quando mais precisávamos de um movimento sindical internacionalista, temos uma CGTP que cultiva uma política isolacionista. A recusa em aderir à nova Confederação Sindical Internacional pode parecer uma questão menor, mas não é: prejudica a nossa capacidade institucional para responder à crise. Hoje, em lugar de estar com os sindicatos europeus autónomos, a CGTP escolheu descer a avenida lado a lado com os sindicatos politicamente tutelados que pertencem à Federação Sindical Mundial. Os sindicatos de democracias pujantes como a Coreia do Norte, Bielorrússia ou Síria.
publicado hoje no i.
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