A desorientação é o regime
E num instante tudo muda. Há dias, o risco de incumprimento do nosso PEC radicava num cenário macroeconómico optimista. As instâncias internacionais desconfiavam da nossa capacidade para crescer, mesmo que a um ritmo medíocre. Pelo caminho, o garrote do financiamento tinha-nos sido apertado, de modo a garantir que não cresceríamos sequer como o previsto. Esta semana, como que para provar a irracionalidade em que tudo assenta, o INE revelou um crescimento do produto no 1º trimestre inesperado, mesmo para os mais optimistas. Depois, o pouco investimento público que restava, e que na semana passada nos era apresentado pelo governo como estratégico, foi directamente para o caixote do lixo da história. Ficámos, portanto, a saber que a velha máxima do futebol de que "o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira" contagiou definitivamente a política. Entretanto, a mesma Europa, que defendia há um par de meses que a retirada precoce dos estímulos às economias produziria um efeito recessivo profundo, abriu as portas à possibilidade de intervir nos orçamentos nacionais, enquanto empurrava os países para um regresso em força à disciplina orçamental apertada. Por cá, onde a desorientação é o regime há vários meses, governo e PSD entenderam-se para assegurar definitivamente que o nosso ajustamento não assentará em nenhuma estratégia económica, mas numa recessão duradoura. Se íamos crescer pouco, o mais certo é que agora não sejamos capazes de crescer. No meio da desorientação, talvez não fosse má ideia que alguém aproveitasse para dizer que, sendo assim, chegaremos a 2013 com níveis de desemprego iguais ou superiores aos que temos hoje.
publicado hoje no i.
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