A grande recessão
Numa semana, forçados pela pressão externa, havia entendimento entre PS e PSD sobre a necessidade de implementar o PEC. Noutra semana, reaberta a disputa política interna sobre as “grandes obras”, o entendimento desfez-se em ar. Nenhuma das instituições internacionais que se pronunciou sobre o nosso PEC identificou o investimento público nele previsto como um risco. Aliás, o risco de incumprimento reside, no essencial, num cenário macroeconómico optimista, mesmo incluindo o pouco investimento público que resiste. Com aeroporto e TGV – que não poderão deixar de ter impacto positivo na nossa competitividade externa no médio prazo –, chegaremos ao fim do PEC com o desemprego em 9,3% e o crescimento do produto em 1,7%. E uma coisa é certa: sem que se vislumbre um modelo alternativo ao que tem dominado nas últimas décadas, um corte total, drástico e de um dia para o outro de todo o investimento público teria um impacto dramático – uma recessão profunda, duradoura, acompanhada por um disparar do desemprego bem para além dos actuais 10%. Neste cenário, tornar-se-ia, por exemplo, impossível promover qualquer tipo de consolidação orçamental. As profundas alterações das nossas condições de financiamento e o fim do “dinheiro barato” são óptimos pretextos para racionalizar o investimento público, colocando fim a muito desperdício e dando prioridade aos que têm melhor rendibilidade privada. Mas entre esse exercício e parar tudo vai uma grande diferença. No fundo, a diferença entre o mantra tantas vezes repetido de que “o País tem de aumentar a sua competitividade” e a capacidade de ter, de facto, uma política económica que torne Portugal viável.
publicado hoje no i.
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