Passos e Sócrates, a mesma luta
Passos Coelho encontra-se uma posição simétrica à de Sócrates, quando venceu as directas no PS. Como Sócrates, Passos teve uma maioria esmagadora, mas tem um problema de credibilidade externa que não é independente de défices na relação com as elites do partido e da sociedade civil. Sócrates resolveu o seu problema interno cooptando para a sua direcção muitos apoiantes de Alegre, que viriam a integrar o seu núcleo duro. Passos aparenta estar a fazer o mesmo, ao apresentar uma lista unitária para a direcção política do PSD. As semelhanças não acabam aqui. Passos terá, presumivelmente, em Pacheco Pereira o seu Manuel Alegre - uma voz crítica e isolada no grupo parlamentar, mas com muita notoriedade mediática. Mas unir o partido não basta, como Sócrates sabia em 2004. Passos precisa de ter uma ponte com a Presidência da República - uma alavanca decisiva para chegar ao poder - e de um tema mobilizador. Precisa de alguém que desempenhe o papel de António Costa e de encontrar o seu "choque tecnológico". No entanto, além da estratégia e da táctica, sobra a substância. Com a vitória de Passos, os dois principais partidos têm líderes que são produtos das estruturas partidárias, sem a credenciação social e intelectual que detinham os líderes do passado. Há quem veja nesta tendência um sintoma de empobrecimento da vida política portuguesa, mas pode dar-se o caso de estarmos apenas a aproximar-nos do padrão das democracias mais avançadas, nas quais a política é deixada a políticos profissionais. Podemos, de facto, estar a ficar iguais aos europeus mas com uma diferença que tem custos: saltámos várias etapas.
publicado hoje no i.
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