A lei Pacheco Pereira
As leis devem ser gerais e abstractas. Uma verdade que não colhe no PSD. A lei da rolha é de facto uma lei ad hominem, tem um destinatário claro: Pacheco Pereira; mas, acima de tudo, é o sintoma de que há um problema larvar no partido. É no mínimo insólito que, perante uma crise profunda e com o governo debilitado, o PSD se entretenha a discutir estatutos e a limitar os direitos dos militantes dissonantes. O PSD tem um problema de lealdade - "os tiros nos pés" de que falou Marques Mendes -, mas a unidade só se recupera com poder. Até regressar ao governo, o partido estará condenado aos desentendimentos internos. E a sua principal raiz não é propriamente ideológica. O PSD vive preso numa clivagem entre um partido de "cima" e um partido de "baixo". Um partido que tem presença mediática e outro que se mantém activo no território, através de micropoderes locais com escassa notoriedade pública. Nos últimos anos, o partido de "baixo" (com Santana e Menezes) tem alternado no poder interno com o partido de "cima" (com Marques Mendes e Ferreira Leite), sem que nenhum dos partidos se consiga afirmar perante o outro. O resultado está à vista. O partido de "baixo", que não aparece nos jornais, vinga-se, com a "lei da rolha", do partido de "cima", personificado em Pacheco Pereira, que tem todas as tribunas disponíveis, para depois o partido de "cima" prometer revogar imediatamente uma norma que o partido de "baixo" acabou de aprovar maioritariamente. Mais do que saber se deve ser liberal, conservador ou social-democrata, o PSD tem de encontrar um líder capaz de romper com esta clivagem.
publicado no i.
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