O dilema de Passos
O congresso do PSD que hoje se inicia é o culminar do falhanço de dois planos que tinham o mesmo objectivo: impedir que Passos Coelho fosse o próximo líder do partido. Plano A, a criação de uma vaga de fundo para que Cristo voltasse a descer à Terra, sob a forma de Marcelo ou Rio; plano B, o lançamento de uma candidatura vitoriosa, herdeira da linha dura do Ferreira Leitismo. Os planos falharam, mas a muito provável vitória de Passos Coelho deixa-o perante um novo dilema, que a entrevista de Cavaco Silva só veio adensar. Passos Coelho vencerá porque sugere que com ele o PSD regressará ao poder. Em última análise, é isso que move os militantes que votarão nas directas. Mas esta sugestão só funciona se for acompanhada de uma opção táctica que leve os sociais-democratas ao governo a curto prazo. Um pouco à imagem do que aconteceu com Sócrates quando foi eleito secretário-geral do PS, Passos Coelho precisa de ir a votos rapidamente, sob pena de ser vítima do mesmo que está acontecer ao primeiro-ministro: ser queimado em lume brando. Acontece que não está nas suas mãos precipitar uma crise política. É necessário que o Presidente não vete politicamente esta intenção. Ora aqui os interesses de Cavaco Silva colidem com os interesses de Passos Coelho. Enquanto Cavaco quer tudo menos turbulência política até às presidenciais, Passos precisa de eleições quanto antes. Se procurar precipitar uma crise política, Passos corre o risco de ser desautorizado desde Belém; se esperar até daqui a um ano e meio, corre o risco de ser politicamente desfeito pelos seus pares.
publicado hoje no i.
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