Imitem a Europa: entendam-se
Por lirismo ou pura irresponsabilidade, o país pôs-se numa posição singular no contexto da zona euro. E não, não é o risco da dívida soberana. A nossa maior singularidade é política. Na Europa há governos de maioria absoluta, de coligação no executivo ou assentes em coligações parlamentares. O que não existe são governos minoritários sem entendimentos parlamentares estáveis. O caso português é único e, por alguma razão, ninguém replica o nosso experimentalismo. Num contexto de crescimento económico, com maior ou menor vigor reformista, a governabilidade é possível sem um apoio maioritário. Num contexto de austeridade, é irresponsável go-vernar sem uma maioria estável. Se as eleições não produzem esse resultado, o mínimo que se exige à classe política é que seja capaz de se entender. Nos últimos seis meses, com responsabilidades repartidas, os partidos portugueses entretiveram-se a votar favoravelmente medidas que aumentam a despesa (acordo sobre a carreira dos professores) e que diminuem a receita (chumbo do Código Contributivo e suspensão do pagamento especial por conta). Esta semana, num gesto essencialmente simbólico, Sócrates e Passos Coelho apareceram lado a lado em São Bento. Fizeram-no condicionados pela pressão externa, mostrando mais uma vez que nos maus momentos temos de ser ajudados a partir de fora. É pena que PS e PSD tenham demorado seis meses a perceber o óbvio: uma crise destas não se enfrenta com coligações pontuais e com governação à vista. Mas é bom que percebam também que, sendo um passo positivo, a solução não radica em conferências de imprensa.
publicado hoje no i.
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