Os pobres eram o problema
Vale a pena recuar umas semanas até à apresentação do PEC. Na altura, foi revelada uma inusitada preocupação com o peso das prestações sociais não contributivas e do subsídio de desemprego na despesa pública. Aliás, a preocupação era tal que o principal resultado prático da primeira aparição conjunta de Sócrates com Passos Coelho foi a antecipação do aperto na protecção social face ao calendarizado. É o que se pode classificar como um exercício puramente político e cosmético. O essencial dos nossos problemas não é o excesso de protecção social dos mais desfavorecidos e o impacto orçamental das alterações propostas não só será reduzido, como em muitos casos terá custos administrativos adicionais. Esta semana, quando governo e oposição foram obrigados a fazer o inevitável para enfrentar a deriva especulativa e para responder ao que é a actual miséria política europeia, tornou-se ainda mais claro o erro que foi cometido. Os ajustamentos violentos que são inevitáveis para restaurarmos a nossa credibilidade financeira precisam de ser compensados por uma rede de mínimos sociais eficaz e solidária. Exactamente o que se procurou deslegitimar politicamente há um par de semanas. Nos últimos anos, muito por força das medidas que agora se criticam, Portugal diminuiu a sua taxa de pobreza e a percentagem de desempregados a receber subsídio foi sempre crescente. Nos próximos anos, acontecerá exactamente o contrário. Quando se tem de aumentar a pressão fiscal, retrair o investimento público e, consequentemente, se congela o mercado de trabalho, talvez não fosse má ideia não tocar no estado social.
publicado no i.
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