O Vice Primeiro-Ministro
O último inquérito pós-eleitoral do ICS já trazia boas notícias para os partidos mais pequenos: as condições estruturais para o seu crescimento são reais (ver margens de erro). Mas o tom das entrevistas que Sócrates e Passos Coelho deram esta semana às televisões serviram para revelar que as condições conjunturais também concorrem para essa tendência. Se Sócrates teve de justificar o aumento de impostos e o adiamento dos grandes investimentos com o facto de o mundo ter mudado em poucos dias (o que não deixa de ser verdade), a posição de Passos Coelho também não é fácil. Depois de uma campanha interna em que prometeu poder ao aparelho e menos impostos ao eleitorado, a realidade impôs-se: perante a necessidade de salvar a economia portuguesa, Passos chegou a acordo para a aprovação de um pacote de austeridade que durará, segundo o próprio, durante 2010 e 2011. Inicialmente, o acordo parecia favorecer Passos: a photo opportunity em São Bento deu-lhe uma imagem de estadista que lhe faltava, sem os custos da partilha do poder numa conjuntura bastante complicada. Propostas como o tributo social, infelizmente, também não desagradam à maioria. Mas com o passar do tempo, à medida que o peso das medidas do lado da receita tem, segundo o próprio, de passar para o lado da despesa, Passos vai ter de se posicionar, revelando a sua agenda. O que implica falar de salários (função pública), de despedimentos (reforma laboral) e de cortes no Serviço Nacional de Saúde. O que não deixará de ter custos políticos. Não por acaso, o Bloco de Esquerda já lhe chama «o Vice Primeiro-Ministro».
publicado no i.
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