Excesso de licenciados?
Numa altura em que há 38.891 licenciados desempregados, o aumento sucessivo do número de vagas no ensino superior foi recebido com uma vaga de críticas.
O argumento é que, por um lado, está a ser feito um investimento, quer do lado da oferta formativa, quer do lado das famílias, que depois não tem correspondência e, por outro, a democratização do acesso a alguns cursos coloca em causa a qualidade da prestação de serviços em determinadas profissões. Há contudo outra face do mesmo tema: fará sentido num país com os nossos défices de qualificação abrandar o acesso ao ensino superior apenas porque há desempregados licenciados?
A resposta é não. Portugal precisa de mais licenciados e uma qualificação do ensino superior, sendo importante para a competitividade do país, continua a ser essencialmente uma mais valia para quem a detém.
Apesar do desemprego entre licenciados ter crescido e se ter aproximado do número de vagas que abre todos os anos no ensino superior, ter uma licenciatura continua a ser importante para entrar no mercado de trabalho e, não menos importante, é uma garantia de que se terá um emprego com mais estabilidade, melhor remuneração e com maiores possibilidades de progressão na carreira do que um não licenciado. Ao que acresce que um licenciado, quando fica desempregado, tende a ficar menos tempo sem trabalho do que um não licenciado.
Nada disto impede que, para quem investiu numa licenciatura, o desemprego ou um emprego desajustado às suas qualificações gere um sério problema de gestão de expectativas. Ainda assim, por muito que isso frustre as expectativas dos próprios, colectivamente temos a ganhar se mesmo profissões que tradicionalmente não requerem licenciaturas forem desempenhadas por licenciados. É uma situação difícil de gerir para quem a vive, mas, por exemplo, um taxista licenciado em direito desempenhará melhor a sua profissão do que um taxista com problemas de literacia ou incapacidade de falar línguas estrangeiras e ter uma licenciatura ajudará, certamente, a que tenha expectativas realistas de mobilidade profissional.
O problema não é haver muitos juristas, é continuarmos a pensar que todos os juristas vão ser advogados ou juízes.
Nada disto nos deve fazer esquecer, contudo, que há um problema de qualidade da oferta no ensino superior. O desemprego entre os licenciados concentra-se em áreas de estudo específicas, mas, essencialmente, em algumas instituições cuja qualidade coloca sérios problemas de empregabilidade. É por isso que o principal problema do ensino superior não é hoje o excesso de vagas, mas sim a qualidade de alguma da oferta. O que serve para recordar que Portugal precisa de mais licenciados e de continuar a aumentar o número de jovens que todos os anos entra no ensino superior, desde que essas entradas se concentrem em instituições que asseguram qualidade na formação.
publicado no Diário Económico.
O argumento é que, por um lado, está a ser feito um investimento, quer do lado da oferta formativa, quer do lado das famílias, que depois não tem correspondência e, por outro, a democratização do acesso a alguns cursos coloca em causa a qualidade da prestação de serviços em determinadas profissões. Há contudo outra face do mesmo tema: fará sentido num país com os nossos défices de qualificação abrandar o acesso ao ensino superior apenas porque há desempregados licenciados?
A resposta é não. Portugal precisa de mais licenciados e uma qualificação do ensino superior, sendo importante para a competitividade do país, continua a ser essencialmente uma mais valia para quem a detém.
Apesar do desemprego entre licenciados ter crescido e se ter aproximado do número de vagas que abre todos os anos no ensino superior, ter uma licenciatura continua a ser importante para entrar no mercado de trabalho e, não menos importante, é uma garantia de que se terá um emprego com mais estabilidade, melhor remuneração e com maiores possibilidades de progressão na carreira do que um não licenciado. Ao que acresce que um licenciado, quando fica desempregado, tende a ficar menos tempo sem trabalho do que um não licenciado.
Nada disto impede que, para quem investiu numa licenciatura, o desemprego ou um emprego desajustado às suas qualificações gere um sério problema de gestão de expectativas. Ainda assim, por muito que isso frustre as expectativas dos próprios, colectivamente temos a ganhar se mesmo profissões que tradicionalmente não requerem licenciaturas forem desempenhadas por licenciados. É uma situação difícil de gerir para quem a vive, mas, por exemplo, um taxista licenciado em direito desempenhará melhor a sua profissão do que um taxista com problemas de literacia ou incapacidade de falar línguas estrangeiras e ter uma licenciatura ajudará, certamente, a que tenha expectativas realistas de mobilidade profissional.
O problema não é haver muitos juristas, é continuarmos a pensar que todos os juristas vão ser advogados ou juízes.
Nada disto nos deve fazer esquecer, contudo, que há um problema de qualidade da oferta no ensino superior. O desemprego entre os licenciados concentra-se em áreas de estudo específicas, mas, essencialmente, em algumas instituições cuja qualidade coloca sérios problemas de empregabilidade. É por isso que o principal problema do ensino superior não é hoje o excesso de vagas, mas sim a qualidade de alguma da oferta. O que serve para recordar que Portugal precisa de mais licenciados e de continuar a aumentar o número de jovens que todos os anos entra no ensino superior, desde que essas entradas se concentrem em instituições que asseguram qualidade na formação.
publicado no Diário Económico.
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