terça-feira, janeiro 15, 2013

As aventuras de Pedro no Facebook


O Facebook aparenta ser a concretização do sonho perfeito de todos os políticos. Finalmente, uma ferramenta que permite falar sem intermediação. Séculos e séculos de debate político mediado e eis que surge um meio que torna possível fazer chegar a mensagem diretamente a milhões de seguidores. Mas o Facebook é, também, para um líder político que ocupa cargos institucionais, como já deveria ter aprendido Passos Coelho, uma máquina de criar ilusões, com efeitos perversos.
Quando o primeiro-ministro deixa de o ser, para assinar mensagens dirigidas aos portugueses enquanto Pedro, está a alimentar uma ilusão de proximidade. Em tom coloquial e numa linguagem “tu cá, tu lá”, Passos Coelho busca compensar a distância que o separa de todos nós, que não somos governantes, nem estamos imbuídos de nenhum poder formal. Mas os resultados não são os desejados: banaliza a figura de primeiro-ministro e perde gravitas. Esta desinstitucionalização do chefe do executivo tem uma consequência imediata. O primeiro-ministro passa a ser o Pedro e os portugueses sentem-se à vontade para tratá-lo como tal. Passos Coelho não se dá ao respeito, logo deixa de ser respeitado.
É evidente que o poder não deve ser sacralizado porque sim. Pelo contrário. Aliás, em democracia, é fundamental que o poder, e o poder político em particular, seja exercido com modéstia e sejam preservados os seus limites. Num contexto de crise como aquele que vivemos, este esforço é ainda mais importante. Mas uma coisa é o recato no exercício do poder, outra é a dessacralização das instituições do regime, combinada com exposição da vida privada de quem nos governa, enredada numa linguagem moralista de pacotilha. Estamos perante a receita perfeita para dar uma machada na pouca dignidade que sobra aos cargos institucionais, ao mesmo tempo que se exponencia o ressentimento social e político.
Mas não menos relevante é a ilusão de participação que é criada nos seguidores do Facebook. A sensação de proximidade funciona, de facto, nos dois sentidos. Também quem recebe a mensagem julga estar próximo do emissor. Não por acaso, assim que o Pedro publicou a mensagem de Natal, onde nos deixava também os cumprimentos da Laura, os comentários dos leitores multiplicaram-se a uma velocidade estonteante. De repente, os portugueses encontraram um espaço para direcionar o seu descontentamento, canalizando a raiva para uma caixa de comentários. Ora também aqui estamos perante uma ilusão, a de que a participação desorganizada e não orgânica produz efeito. Não produz, limitamo-nos a ver canalizada a violência verbal para uma caixa de comentários.
No fim, resta a mensagem propriamente dita. Basta lê-la para ficarmos com a suspeição que o estilo e o conteúdo têm a impressão digital de Passos Coelho. Não há, quanto a isso, grandes pretextos para análise – trata-se de uma mensagem que infelizmente fala por si.

 publicado no Expresso de 29 de Dezembro