Singularidade política
A política portuguesa não escapa à proverbial inclinação nacional para os comportamentos singulares. Esta semana, se dúvidas restassem, ficámos a saber que teremos um governo que não encontra paralelo: composto por apenas um partido, sem coligações e sem maioria parlamentar. Na Europa há governos de maioria absoluta (quase exclusivamente em países com sistemas eleitorais maioritários); governos assentes em coligações parlamentares e ainda governos de coligação. O que não existe são governos minoritários, com coligações do tipo "navegação à vista", como acontecerá em Portugal. E não existe porque é certo que se traduzirão em instabilidade.
Aliás, em Portugal, apenas um governo de maioria relativa resistiu uma legislatura inteira, o primeiro de Guterres. Um governo que teve um contexto económico favorável e que serviu para "desasfixiar" o país das maiorias absolutas de Cavaco. Agora, com crescimentos económicos medíocres, com uma pressão social difícil de gerir e com uma clara propensão para a formação de coligações negativas, resistir ao pântano é um trabalho político hercúleo para o governo. Mas, certamente, não menos para as oposições, que não podem estar comprometidas com a governação, mas também não vão querer ser responsabilizadas pela instabilidade. Não por acaso, apenas um governo caiu no Parlamento por iniciativa das oposições (em 1987, o governo minoritário do PSD). Já agora, nas eleições seguintes, o partido no poder teve uma maioria absoluta e as oposições foram justamente fustigadas.
publicado no i.
Aliás, em Portugal, apenas um governo de maioria relativa resistiu uma legislatura inteira, o primeiro de Guterres. Um governo que teve um contexto económico favorável e que serviu para "desasfixiar" o país das maiorias absolutas de Cavaco. Agora, com crescimentos económicos medíocres, com uma pressão social difícil de gerir e com uma clara propensão para a formação de coligações negativas, resistir ao pântano é um trabalho político hercúleo para o governo. Mas, certamente, não menos para as oposições, que não podem estar comprometidas com a governação, mas também não vão querer ser responsabilizadas pela instabilidade. Não por acaso, apenas um governo caiu no Parlamento por iniciativa das oposições (em 1987, o governo minoritário do PSD). Já agora, nas eleições seguintes, o partido no poder teve uma maioria absoluta e as oposições foram justamente fustigadas.
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