Sinais de mudança
A reprodução do poder continua a ser a marca forte do mapa autárquico em Portugal, mas, ainda assim, é possível identificar algumas mudanças no imediato e algumas tendências que poderão consolidar-se em 2013.
Estávamos perante umas eleições puras, na medida em que não havia nenhuma contaminação por dinâmicas nacionais: não era possível esperar voto de protesto face ao Governo (o assunto havia ficado resolvido há quinze dias) e as eleições encerravam um ciclo político. Desse ponto de vista, o eleitorado deu grandes sinais de maturidade: comprovável quer pelas significativas flutuações em alguns concelhos entre voto legislativo e autárquico, quer pelos níveis de participação eleitoral muito significativos.
A participação eleitoral, aliás, revela que, em lugar do cansaço que se temia, a personalização e a competitividade de muitas disputas são mobilizadoras. Em Lisboa, por exemplo, comparando com o que aconteceu há quatro anos e de modo ainda mais intenso nas intercalares, votou mais gente. Há também alguns sinais de que mudanças de presidentes de câmara podem estar associadas ao crescimento da participação eleitoral. Ou seja, a mobilização de quem no passado não votou poderá ser determinante para explicar a renovação no poder autárquico.
O aspecto mais surpreendente destas eleições foi a boa ‘performance' do PS. Se bem que tenha perdido uma capital de distrito, conquistou duas outras, bem como várias câmaras simbólicas. Não menos importante, ganhou autarquias que se mantinham no mesmo partido desde 1976. Mais, foi capaz de conquistar autarquias quer ao PC, quer ao PSD.
Se tivermos em conta que, entre os presidentes que se recandidatavam, havia perto de duzentos que estão legalmente inibidos de concorrerem em 2013 (por força da lei da limitação dos mandatos), abriu-se uma janela de genuína renovação daqui a quatro anos. Neste contexto, a dificuldade que o PC tem revelado para substituir os seus autarcas de referência pode anunciar um definhamento autárquico dos comunistas. Em 2013 poderemos assistir a um reforço da bipolarização do mapa autárquico (contrariando por exemplo a tendência das legislativas e também das europeias), combinado com muitas transferências de poder entre os três partidos com expressão autárquica.
Finalmente, as leituras nacionais imediatas. As autárquicas revelaram um manifesto equívoco da direcção do BE em relação ao que pensam os eleitores do partido. Enquanto os dirigentes se auto-excluem de qualquer solução de governo, os eleitores, pelo menos no caso autárquico, prefeririam ver o BE a assumir responsabilidades governativas, só assim se explicam as quebras eleitorais em Lisboa e no Porto. Já Manuela Ferreira Leite, que procurava nas autárquicas uma tábua de salvação que manifestamente não se vislumbrava, é, agora, de facto, ex-líder do PSD.
publicado no Diário Económico.
Estávamos perante umas eleições puras, na medida em que não havia nenhuma contaminação por dinâmicas nacionais: não era possível esperar voto de protesto face ao Governo (o assunto havia ficado resolvido há quinze dias) e as eleições encerravam um ciclo político. Desse ponto de vista, o eleitorado deu grandes sinais de maturidade: comprovável quer pelas significativas flutuações em alguns concelhos entre voto legislativo e autárquico, quer pelos níveis de participação eleitoral muito significativos.
A participação eleitoral, aliás, revela que, em lugar do cansaço que se temia, a personalização e a competitividade de muitas disputas são mobilizadoras. Em Lisboa, por exemplo, comparando com o que aconteceu há quatro anos e de modo ainda mais intenso nas intercalares, votou mais gente. Há também alguns sinais de que mudanças de presidentes de câmara podem estar associadas ao crescimento da participação eleitoral. Ou seja, a mobilização de quem no passado não votou poderá ser determinante para explicar a renovação no poder autárquico.
O aspecto mais surpreendente destas eleições foi a boa ‘performance' do PS. Se bem que tenha perdido uma capital de distrito, conquistou duas outras, bem como várias câmaras simbólicas. Não menos importante, ganhou autarquias que se mantinham no mesmo partido desde 1976. Mais, foi capaz de conquistar autarquias quer ao PC, quer ao PSD.
Se tivermos em conta que, entre os presidentes que se recandidatavam, havia perto de duzentos que estão legalmente inibidos de concorrerem em 2013 (por força da lei da limitação dos mandatos), abriu-se uma janela de genuína renovação daqui a quatro anos. Neste contexto, a dificuldade que o PC tem revelado para substituir os seus autarcas de referência pode anunciar um definhamento autárquico dos comunistas. Em 2013 poderemos assistir a um reforço da bipolarização do mapa autárquico (contrariando por exemplo a tendência das legislativas e também das europeias), combinado com muitas transferências de poder entre os três partidos com expressão autárquica.
Finalmente, as leituras nacionais imediatas. As autárquicas revelaram um manifesto equívoco da direcção do BE em relação ao que pensam os eleitores do partido. Enquanto os dirigentes se auto-excluem de qualquer solução de governo, os eleitores, pelo menos no caso autárquico, prefeririam ver o BE a assumir responsabilidades governativas, só assim se explicam as quebras eleitorais em Lisboa e no Porto. Já Manuela Ferreira Leite, que procurava nas autárquicas uma tábua de salvação que manifestamente não se vislumbrava, é, agora, de facto, ex-líder do PSD.
publicado no Diário Económico.
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