Entrevista ao Jornal Sol
É co-redactor da moção de José Sócrates. Não seria mais clarificador que cada tendência do PS assumisse em moção a sua visão do futuro?
- A discussão que esteve por detrás da moção foi viva, animada e participada e foi possível expor diversos pontos de vista. Para um partido que está no poder é importante conseguir a síntese desses pontos de vista.
Não me parece que o fraccionamento fortalecesse o PS neste momento, até porque não é essa a tradição.
- Seria mau para o partido?
- Poderia ser artificial. Nas questões essenciais há uma grande convergência. No início de um novo ciclo é importante que saibamos valorizar os pontos de convergência, em vez de potenciar a divergência.
- Neste momento o PS tem um grave problema que não vai ficar resolvido no Congresso-.
- Essa questão chama-se Manuel Alegre. Não concebo um PS sem Alegre, que faz parte da identidade do PS. Espero que também ele não se conceba sem o PS. É preciso grande abertura e disponibilidade de ambos os lados.
- Gostaria que Alegre participasse no Congresso?
- Sim. É muito melhor que esse debate ocorra dentro do partido do que de fora para dentro. Julgo que tem ido a quase todos os congressos.
- Alegre não votou na eleição para secretário-geral...
- A abstenção é um direito. Mas é um sinal que ele dá e e preciso encontrar uma forma de contrariar esses sinais. A sua saída do PS seria um erro com consequências para si próprio, seria um epifenómeno. Para o PS, não são claras as consequências. Já se percebeu que Alegre vale menos internamente do que fora do partido. Do ponto de vista da competição eleitoral pura, a sua saída seria mais perigosa para o BE do que para o PS.
- A ala esquerda do PS contenta-se com a proposta de casamento gay e a subida de Impostos para os ricos?
- A discussão de direitos, liberdades e garantias não deve ser suspensa pela crise económica. Agora, os níveis de desigualdade obrigam-nos a passar para o combate ao conjunto das desigualdades, mudando o padrão de especialização da nossa economia, aumentando qualificações e utilizando os mecanismos fiscais.
Precisamos de introduzir a progressividade das deduções com despesas sociais, taxar mais os que ganham muitíssimo...
- O que é ganhar muitíssimo?
- Quem ganha 15 mil euros por mês não deve estar no mesmo escalão dos que ganham 4 mil. É preciso alargar os escalões.
- O Governo de Guterres não teve coragem para o fazer; o argumento era de que os mais ricos fugiriam de Portugal.
- O PS foi tímido na reforma fiscal de Guterres. Esse risco não se coloca, não é um perigo radical. O Presidente da República já defendeu isso e Fernando Ulrich também. É preciso também taxar mais-valias que não são taxadas, como algumas mobiliárias, e encontrar forma de limitar os benefícios que alguns recebem além da remuneração-base.
- Como pode o PS reconquistar os votos perdidos e tentar alcançar a maioria absoluta?
- Se quiser ir buscar mais votos tem que perceber os motivos que afastaram essas pessoas do PS e mostrar que as suas soluções são as melhores. Não é com irritação, com belicismos. Há demasiada linguagem bélica na política.
- Os portugueses gostam de governos musculados.
- Sim, gostam, mas não é muito elogioso para a cultura democrática do país.
- É por causa dos exemplos dos políticos que acontecem situações como a censura no Carnaval de Torres Vedras e a apreensão de livros em Braga?
- Temos uma cultura de liberdades, direitos e garantias muito frágil. E, por isso, gostava de ver mais vezes os responsáveis políticos e governamentais a ter uma atitude pedagógica e a condenar veementemente estas situações. Como não acontece, isso tem como consequência que uma cultura autoritária, que ainda persiste no país, se sinta escudada.
- Como viu o convite do PS ao Partido Socialista Unido da Venezuela, de Hugo Chávez?
- Faz todo o sentido que Portugal, enquanto Estado, aprofunde as relações comerciais e diplomáticas com a Venezuela e com a China, mas há uma diferença entre as relações internacionais do Estado e as de um partido político, mesmo que seja o partido no poder. Estas devem organizar-se com base nas solidariedades ideológicas e políticas e não vejo nenhum solidariedade política e ideológica com o regime chinês, nem com o da Venezuela. Do mesmo modo que a China não é o meu referencial de socialismo, a Venezuela também não é o meu referencial de democracia. Portanto, acho mal que tenham sido convidados.
- A discussão que esteve por detrás da moção foi viva, animada e participada e foi possível expor diversos pontos de vista. Para um partido que está no poder é importante conseguir a síntese desses pontos de vista.
Não me parece que o fraccionamento fortalecesse o PS neste momento, até porque não é essa a tradição.
- Seria mau para o partido?
- Poderia ser artificial. Nas questões essenciais há uma grande convergência. No início de um novo ciclo é importante que saibamos valorizar os pontos de convergência, em vez de potenciar a divergência.
- Neste momento o PS tem um grave problema que não vai ficar resolvido no Congresso-.
- Essa questão chama-se Manuel Alegre. Não concebo um PS sem Alegre, que faz parte da identidade do PS. Espero que também ele não se conceba sem o PS. É preciso grande abertura e disponibilidade de ambos os lados.
- Gostaria que Alegre participasse no Congresso?
- Sim. É muito melhor que esse debate ocorra dentro do partido do que de fora para dentro. Julgo que tem ido a quase todos os congressos.
- Alegre não votou na eleição para secretário-geral...
- A abstenção é um direito. Mas é um sinal que ele dá e e preciso encontrar uma forma de contrariar esses sinais. A sua saída do PS seria um erro com consequências para si próprio, seria um epifenómeno. Para o PS, não são claras as consequências. Já se percebeu que Alegre vale menos internamente do que fora do partido. Do ponto de vista da competição eleitoral pura, a sua saída seria mais perigosa para o BE do que para o PS.
- A ala esquerda do PS contenta-se com a proposta de casamento gay e a subida de Impostos para os ricos?
- A discussão de direitos, liberdades e garantias não deve ser suspensa pela crise económica. Agora, os níveis de desigualdade obrigam-nos a passar para o combate ao conjunto das desigualdades, mudando o padrão de especialização da nossa economia, aumentando qualificações e utilizando os mecanismos fiscais.
Precisamos de introduzir a progressividade das deduções com despesas sociais, taxar mais os que ganham muitíssimo...
- O que é ganhar muitíssimo?
- Quem ganha 15 mil euros por mês não deve estar no mesmo escalão dos que ganham 4 mil. É preciso alargar os escalões.
- O Governo de Guterres não teve coragem para o fazer; o argumento era de que os mais ricos fugiriam de Portugal.
- O PS foi tímido na reforma fiscal de Guterres. Esse risco não se coloca, não é um perigo radical. O Presidente da República já defendeu isso e Fernando Ulrich também. É preciso também taxar mais-valias que não são taxadas, como algumas mobiliárias, e encontrar forma de limitar os benefícios que alguns recebem além da remuneração-base.
- Como pode o PS reconquistar os votos perdidos e tentar alcançar a maioria absoluta?
- Se quiser ir buscar mais votos tem que perceber os motivos que afastaram essas pessoas do PS e mostrar que as suas soluções são as melhores. Não é com irritação, com belicismos. Há demasiada linguagem bélica na política.
- Os portugueses gostam de governos musculados.
- Sim, gostam, mas não é muito elogioso para a cultura democrática do país.
- É por causa dos exemplos dos políticos que acontecem situações como a censura no Carnaval de Torres Vedras e a apreensão de livros em Braga?
- Temos uma cultura de liberdades, direitos e garantias muito frágil. E, por isso, gostava de ver mais vezes os responsáveis políticos e governamentais a ter uma atitude pedagógica e a condenar veementemente estas situações. Como não acontece, isso tem como consequência que uma cultura autoritária, que ainda persiste no país, se sinta escudada.
- Como viu o convite do PS ao Partido Socialista Unido da Venezuela, de Hugo Chávez?
- Faz todo o sentido que Portugal, enquanto Estado, aprofunde as relações comerciais e diplomáticas com a Venezuela e com a China, mas há uma diferença entre as relações internacionais do Estado e as de um partido político, mesmo que seja o partido no poder. Estas devem organizar-se com base nas solidariedades ideológicas e políticas e não vejo nenhum solidariedade política e ideológica com o regime chinês, nem com o da Venezuela. Do mesmo modo que a China não é o meu referencial de socialismo, a Venezuela também não é o meu referencial de democracia. Portanto, acho mal que tenham sido convidados.
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