o que é que vai acontecer?
A ideia de que podemos
antecipar o que vai acontecer não é nova. No passado era gerida de uma de duas
formas: os homens aceitavam o futuro como uma fatalidade ou com uma ilusão
omnipotente de que eram senhores do seu destino.
Com a modernidade, a
dicotomia passou a ser gerida com ambição renovada. A invenção da imprensa
escrita por Gutenberg, depois a criação dos primeiros sistemas estatísticos e,
mais recentemente, a internet e a disponibilização de quantidades de informação
sem precedentes, ajudaram a decidir o que fazer com o futuro, na medida em que
criaram instrumentos capazes de o antecipar. As previsões são isso mesmo: um
cruzamento da subjectividade com a objectividade que torna possível dizer de
que forma os mercados financeiros se vão comportar, que tipo de ataques terroristas
pode acontecer e quem vai vencer as eleições.
Contudo, como bem
sabemos, apesar do crescimento exponencial da informação e da sofisticação dos
modelos de análise, as previsões falham muito. Ninguém antecipou o 11 de
Setembro, da mesma forma que a actual crise financeira não foi sistematicamente
pré-anunciada e, como infelizmente sentimos no nosso dia-a-dia, o Governo
português falha todas os cenários macroeconómicos.
Mas, na verdade, há
previsões que falham e outras que são bastante certeiras. Por que é que isto
acontece?
Nate Silver, em “the
signal and the noise”, procura responder à questão com uma autoridade
reconhecida. Silver surpreendeu o mundo quando há 4 anos acertou nos resultados
de 49 dos 50 Estados norte-americanos nas presidenciais e, em Novembro, voltou
a repetir a façanha, acertando, novamente, com um grau de precisão superior ao
de todas as sondagens. Contudo, como o próprio reconhece, “adoramos prever
coisas, mas não somos muito bons a fazê-lo”.
Para quem construiu uma
reputação a acertar previsões, não deixa de ser sintomático que tenha escrito
um livro a alertar para a nossa capacidade limitada para antecipar. No fundo, o
que Silver sugere é que precisamos de aprender a incorporar a incerteza na
forma como prevemos e que o segredo das previsões menos falíveis está no modo como
se vão ajustando permanentemente a novas informações.
Para Nate Silver, as
previsões falham porque há demasiado ruído (i.e., excesso de informação) que
oculta os sinais (i.e., a verdade), ao mesmo tempo que temos uma inclinação
para procurar os dados que confirmam os nossos preconceitos. Para lidar com o
ruído, Silver sugere uma estratégia baseada na aproximação à verdade.
Devemos começar por
estabelecer a probabilidade de alguma coisa acontecer e depois ir alterando os
resultados consoante vamos tendo mais informação. Não se trata de uma abordagem
puramente empírica, bem pelo contrário, mas, sim, da necessidade de contrariar
a tendência para forçar a realidade a conformar-se com os nossos preconceitos
ideológicos. Daqui decorre uma recomendação clara: quanto mais disponíveis
estivermos para testar as nossas ideias, maior a nossa capacidade para lidar
com o ruído, aprender com os erros e saber ler os sinais sobre o que vai
acontecer.
publicado no Expresso de 16 de Março
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