Uma estratégia possível
As últimas sondagens dão a Cavaco Silva uma vantagem suficiente para ganhar à primeira volta. A candidatura de Manuel Alegre tem um problema sério e o estado de espírito na esquerda resume-se a esperar para ver. Alegre tem de fazer qualquer coisa para inverter esta tendência: o pior que lhe podia acontecer era ficar numa espécie de meio caminho que, sem desagradar nem ao PS nem ao BE, acabará por não mobilizar ninguém. Não por acaso, o seu melhor momento até agora esteve na tentativa de associar Cavaco, o economista empenhado na cooperação estratégica, à situação económica do país. Anteontem, ao reler para o i o "III Fares the Land" de Tony Judt, lembrei-me da candidatura de Alegre. O livro anuncia uma estratégia eleitoral possível. Manuel Alegre representa a mesma social- -democracia de Judt, demasiado presa ao modelo social vigente nos 30 gloriosos anos do pós- -guerra, que, além do mais e infelizmente, nunca passaram por Portugal. Uma estratégia que, como programa de governo, não serve, desde logo porque abdica de qualquer visão modernizadora. Mas, tratando--se de eleições presidenciais, talvez esta retórica nostálgica não seja vista como uma ameaça excessiva pelo que resta da esquerda moderna de Sócrates. Num momento em que as pessoas olham para o futuro com desconfiança e vêem o seu estilo de vida ameaçado - a "era de insegurança" de que fala Judt -, uma plataforma política conservadora e de resistência às transformações e aos ajustamentos será pouco realista e inconsequente mas poderá, apesar de tudo, ter alguma força eleitoral, permitindo descolar dos actuais 20%.
publicado hoje no i.
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