Passos e Cavaco: uma luta diferente
Há quem diga que as questões afectivas tendem a ser desvalorizadas quando se analisa a política. É provavelmente verdade. Basta pensar na proposta de revisão constitucional apresentada por Passos Coelho. Tem sido dito que representa um ataque ao código genético do regime, pondo em causa os seus alicerces (o ataque descabelado ao Estado Social), ao mesmo tempo que promove instabilidade política (ao mexer inoportunamente no equilíbrio de poderes). Se procurarmos alguma racionalidade nas propostas de Passos, faz sentido olhar para elas assim. Mas talvez valha a pena pôr a razão de lado. Cada semana que passa, mais me convenço que o inimigo de Passos não é o povo (através do fim da gratuitidade no acesso à educação e à saúde), nem sequer Sócrates. Não é segredo que Ca-vaco não morre de amores por Passos - no que é retribuído. Ora se olharmos para as últimas iniciativas do PSD, começa a ficar claro que, no fundo, podem não passar de um acerto de contas com Cavaco. Primeiro foi o tema da acumulação de pensões, em que o PSD obrigou Cavaco a justificar a sua posição, enquanto se envolvia numa enorme trapalhada sobre o que estava em causa; depois a ameaça de chumbo do OE, que poderá ocorrer em plena campanha presidencial - a última coisa que Cavaco deseja; esta semana chegou a alteração dos poderes presidenciais, causando natural desconforto ao Presidente em exercício que mais de uma vez se confessou confortável com os actuais poderes. Mas, já que estamos no domínio da emoção, não sei porquê, parece-me que este frenesim de iniciativas acabará por trazer mais problemas a Passos do que a Cavaco.
publicado hoje no i.
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