O carnaval financeiro
Depois do braço-de-ferro entre governo e oposições para definir as condições de governabilidade, o país viu-se enredado num novo braço-de-ferro: entre os partidos "nacionais" e as suas declinações regionais. Até ver, a versão regional dos partidos leva vantagem. Enquanto isso, a bolsa de valores cai a uma velocidade estonteante e o risco da dívida portuguesa vai batendo alegremente recordes. Quando era necessário robustez política para cortar a despesa e conter o endividamento, os partidos, empurrados a partir da Madeira e inspirados pelas palavras de João Jardim, iniciam um desfile de Carnaval antes de tempo. Salta à vista de toda a gente que a ausência de uma maioria de um só partido ou, alternativamente, de uma coligação formalizada entre partidos tornará impossível qualquer esforço estrutural de consolidação; mas como a irresponsabilidade não conhece limites, torna-se também cada vez mais claro que os partidos estão capturados pelo interesse regional (como já se tinha percebido, para o caso do PS, com o Estatuto dos Açores). Não se vislumbra nenhum motivo para que, num contexto em que é exigida disciplina orçamental a todos, se suspendam os princípios da Lei das Finanças Regionais em vigor. A menos que tudo se deva a uma singela coincidência: com directas à porta, ninguém no PSD quer perder os cerca de 2500 votos de militantes da Madeira. Conclusão, de captura em captura não restará ninguém para defender o interesse geral. Sair-nos-á bem caro, literalmente, quando forem emitidas obrigações do Estado português.
publicado hoje no i.
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