quinta-feira, janeiro 28, 2010

A única saída

É frequente ouvirmos dizer que, hoje, os sindicatos que protestam são aqueles que podem: os que representam segmentos da força de trabalho protegidos por vínculos laborais seguros. Vezes de mais, este grupo confunde-se com os funcionários da administração central e local. O paradoxo é que, sendo os que mais se mobilizam e protestam, os funcionários públicos são também o elo mais fraco de cada vez que regressamos à disciplina orçamental. Com uma despesa muito rígida, sem qualquer margem de manobra para cortes nas prestações sociais (que pela força combinada da maturação do sistema e da crise económica tenderão naturalmente a subir), a única saída para aliviar, ainda que marginalmente, a despesa pública passa pelos cortes salariais na administração pública. É, contudo, um esforço solidário que faz sentido pedir. Afinal, ao longo de 2009, os funcionários públicos viram o seu rendimento disponível aumentar e, neste momento, a prioridade deve ser garantir o emprego dos que têm os seus postos de trabalho em risco e promover o regresso ao mercado dos que estão fora. Mas, numa altura de dificuldades e sacrifícios, não deixa de ser sintomático que, ainda assim, haja funcionários públicos de primeira, como revela a situação de excepção que foi acordada para as carreiras na educação.
comentário publicado hoje no DE a propósito dos congelamentos salariais na A.P.