A troca orçamental
A incapacidade de a maioria aritmética de esquerda se traduzir numa coligação política é o mais estrutural dos bloqueios do nosso sistema partidário. Com uma maioria relativa do PS no Parlamento, o tema regressa à tona, com particular intensidade quando se discute o Orçamento do Estado. Um parlamento de esquerda que se revela incapaz de um entendimento em torno da lei fundamental para a governação. O paradoxo tem raízes sólidas.
Ao mesmo tempo que o PS não consegue hegemonizar à esquerda, as condições de diálogo têm sido impossibilitadas pelo efeito combinado - ainda que assimétrico - de um PS partido-charneira e de um BE e um PCP em acantonamento auto-infligido (sustentado por uma combinação que não encontra paralelo na Europa parlamentar entre irrealismo e conservadorismo).
Desta feita, há certamente bons argumentos para não haver um entendimento orçamental à esquerda, mas convém que sejam explicitados. Caso contrário, a ideia que fica é de que o PS desistiu de desbloquear a sua relação com a esquerda. Se assim for, o próprio governo chegará às próximas presidenciais numa situação muito delicada: emparedado entre Cavaco Silva, manifestamente hostil a Sócrates, e Manuel Alegre, cuja dinâmica política vai no sentido contrário à da maioria socialista. Sem candidato presidencial de facto e condenado pela realidade a uma troca orçamental com o PSD/CDS, o PS pode continuar a assumir-se como um referencial de estabilidade, mas vai lentamente delapidando a sua base política.
publicado no i.
Ao mesmo tempo que o PS não consegue hegemonizar à esquerda, as condições de diálogo têm sido impossibilitadas pelo efeito combinado - ainda que assimétrico - de um PS partido-charneira e de um BE e um PCP em acantonamento auto-infligido (sustentado por uma combinação que não encontra paralelo na Europa parlamentar entre irrealismo e conservadorismo).
Desta feita, há certamente bons argumentos para não haver um entendimento orçamental à esquerda, mas convém que sejam explicitados. Caso contrário, a ideia que fica é de que o PS desistiu de desbloquear a sua relação com a esquerda. Se assim for, o próprio governo chegará às próximas presidenciais numa situação muito delicada: emparedado entre Cavaco Silva, manifestamente hostil a Sócrates, e Manuel Alegre, cuja dinâmica política vai no sentido contrário à da maioria socialista. Sem candidato presidencial de facto e condenado pela realidade a uma troca orçamental com o PSD/CDS, o PS pode continuar a assumir-se como um referencial de estabilidade, mas vai lentamente delapidando a sua base política.
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