O diabo está nos detalhes
Quem leve a sério os discursos políticos tenderá a acreditar que há um amplo consenso em torno da contenção da despesa. Na verdade, podemos mesmo chegar a crer que está em curso um campeonato para saber quem é mais favorável à disciplina orçamental. O problema é que os discursos não resistem ao teste da realidade. Como provaram as negociações pré-orçamentais, há entre nós uma notável incapacidade de consensualizar acordos de contenção da despesa quando se passa da discussão abstracta para o concreto. Depois de os partidos todos terem estimulado a consagração de um regime de excepção para as carreiras dos professores, ao mesmo tempo que é pedido um esforço solidário aos funcionários públicos, assistimos a uma espécie de pré-discussão na especialidade que não deu nenhum contributo para diminuir estruturalmente a despesa. Perante desequilíbrios orçamentais que não se vê como possam ser ultrapassados até 2013, fica claro que não bastam "abstenções construtivas"; é necessária uma coligação formal em torno de um programa plurianual para equilibrar as contas públicas. Como se encarregará de demonstrar a discussão orçamental na especialidade, o Diabo - o aumento da despesa - estará nos detalhes. Com acordos de navegação à vista, poderemos dar o benefício da credibilidade a Teixeira dos Santos (que se apresentará com renovada capacidade de fazer estimativas), aguardar a retoma económica ou até esperar a complacência dos mercados, mas o mais certo é caminharmos inexoravelmente para o Purgatório.
publicado no i.
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