A vaga de fundo
Há um ano e meio, os barões do PSD uniram-se para que Ferreira Leite avançasse para a liderança.
A vaga de fundo, é hoje sabido, ofereceu uma curtíssima vitória nas eleições directas à "boa moeda". Depois, a "escolhida" teve um resultado eleitoral em tudo idêntico ao da "má moeda", cinco anos antes, com Santana Lopes. Agora, os mesmíssimos barões empenharam-se em revisitar o equívoco, lançando um apelo para que, desta feita, fosse Marcelo Rebelo de Sousa o voluntário para se deixar imolar na fogueira que os barões, depois, se encarregariam de ir mantendo acesa. A repetição da história revela, antes de mais, que o partido não conseguiu aprender com os erros recentes, mas também que há um conjunto de pressupostos sobre o PSD que a realidade se tem encarregado de desmentir.
Desde logo a tese de que haveria uma dissonância entre a base militante e eleitoral do PSD. Durante as lideranças de Santana e de Menezes, era dito que o principal obstáculo à afirmação do PSD era uma clivagem profunda entre a dinâmica interna ao aparelho do partido - que escolhia líderes populistas - e o eleitorado tradicional do partido - supostamente em sintonia com as elites social-democráticas. O teste eleitoral de Outubro veio provar que as más ‘performances' eleitorais não dependiam do valor facial da moeda escolhida para liderar.
Depois, o carácter relativamente inconsequente das vagas de fundo. Como se viu nas últimas directas, não há uma correspondência entre a notoriedade dos apoiantes e os votos nos candidatos. Ferreira Leite fazia quase o pleno entre os barões, mas no fim teve apenas 37% dos votos dos militantes, contra 31% de Passos e 29% de Santana. Estes resultados não podem deixar de indiciar uma profunda clivagem entre base militante e barões e mesmo entre aquela e quadros intermédios do partido. Há um PSD militante que se tem vindo a distanciar do partido que aparentemente representa os militantes no espaço público.
Ora, a pior forma de ultrapassar estes bloqueios à afirmação do PSD é evitar discutir o que quer que seja - desde logo uma estratégia diferenciadora da do PS - e entronizar um líder através de um unanimismo artificial. Engana-se quem pense que os problemas se resolvem através da notoriedade mediática desta ou daquela personalidade. No passado, o PSD foi capaz de se unir através do poder, hoje, distante do poder executivo, o único cimento possível para a afirmação nacional do partido é programático. É isto que faz com que o problema não seja a balcanização do partido, mas sim o alinhamento das facções radicar num misto de ódios pessoais com querelas cuja origem se torna difícil de determinar. A próxima liderança do partido ou se afirma na política e nas políticas ou o PSD teimará em não se reencontrar consigo próprio.
publicado no Diário Económico.
A vaga de fundo, é hoje sabido, ofereceu uma curtíssima vitória nas eleições directas à "boa moeda". Depois, a "escolhida" teve um resultado eleitoral em tudo idêntico ao da "má moeda", cinco anos antes, com Santana Lopes. Agora, os mesmíssimos barões empenharam-se em revisitar o equívoco, lançando um apelo para que, desta feita, fosse Marcelo Rebelo de Sousa o voluntário para se deixar imolar na fogueira que os barões, depois, se encarregariam de ir mantendo acesa. A repetição da história revela, antes de mais, que o partido não conseguiu aprender com os erros recentes, mas também que há um conjunto de pressupostos sobre o PSD que a realidade se tem encarregado de desmentir.
Desde logo a tese de que haveria uma dissonância entre a base militante e eleitoral do PSD. Durante as lideranças de Santana e de Menezes, era dito que o principal obstáculo à afirmação do PSD era uma clivagem profunda entre a dinâmica interna ao aparelho do partido - que escolhia líderes populistas - e o eleitorado tradicional do partido - supostamente em sintonia com as elites social-democráticas. O teste eleitoral de Outubro veio provar que as más ‘performances' eleitorais não dependiam do valor facial da moeda escolhida para liderar.
Depois, o carácter relativamente inconsequente das vagas de fundo. Como se viu nas últimas directas, não há uma correspondência entre a notoriedade dos apoiantes e os votos nos candidatos. Ferreira Leite fazia quase o pleno entre os barões, mas no fim teve apenas 37% dos votos dos militantes, contra 31% de Passos e 29% de Santana. Estes resultados não podem deixar de indiciar uma profunda clivagem entre base militante e barões e mesmo entre aquela e quadros intermédios do partido. Há um PSD militante que se tem vindo a distanciar do partido que aparentemente representa os militantes no espaço público.
Ora, a pior forma de ultrapassar estes bloqueios à afirmação do PSD é evitar discutir o que quer que seja - desde logo uma estratégia diferenciadora da do PS - e entronizar um líder através de um unanimismo artificial. Engana-se quem pense que os problemas se resolvem através da notoriedade mediática desta ou daquela personalidade. No passado, o PSD foi capaz de se unir através do poder, hoje, distante do poder executivo, o único cimento possível para a afirmação nacional do partido é programático. É isto que faz com que o problema não seja a balcanização do partido, mas sim o alinhamento das facções radicar num misto de ódios pessoais com querelas cuja origem se torna difícil de determinar. A próxima liderança do partido ou se afirma na política e nas políticas ou o PSD teimará em não se reencontrar consigo próprio.
publicado no Diário Económico.
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