De novo um novo compromisso
De novo um novo compromisso
Não passa uma semana sem que
alguém venha apelar a um consenso político alargado. Desta feita foi o
primeiro-ministro que pediu um “novo compromisso”, acrescentando que 2014 seria
o ano indicado para se formar “uma grande coligação de agentes” (sic). Podemos
ser levados a crer que, com a repetição do apelo, por si só, ficam
ultrapassados os bloqueios que têm impedido a concertação.
Temos, em Portugal, um
conjunto de obstáculos aos entendimentos, quer de natureza conjuntural quer
estrutural, que não só continuam presentes como se têm acentuado. Mas há também
uma questão que deve ser colocada: precisamos mesmo de consensos alargados?
Há riscos evidentes em levar
longe de mais a consensualização das políticas. À cabeça, tornar a alternância
numa rotatividade sem mudança. Se, por absurdo, o essencial das soluções
políticas passasse a assentar nos amplos consensos que nos são pedidos, à
mudança de Governo passaria a corresponder apenas uma mudança de pessoal
político e as escolhas eleitorais deixariam de assentar em alternativas
programáticas. Num regime que já tem a sua legitimidade pelas ruas da amargura,
seria certamente a machada final.
Mas
é também verdade que Portugal precisa de estabilizar políticas e contrariar o
excesso de volatilidade que caracteriza a ação do Estado. Há, contudo, que
encontrar um ponto de equilíbrio entre continuidade e mudança. Ora, da mesma
forma que esse equilíbrio tem estado ausente nos últimos dois anos, estamos
hoje mais perto de o alcançar para o futuro. Certamente com novos
protagonistas.
Aquando
da assinatura do memorando, por uma combinação de predisposição genuína para
entendimentos com constrangimentos que empurravam parceiros sociais e partidos
para o diálogo, tivemos condições únicas para negociar soluções. No que
continua a ser o principal mistério político dos últimos tempos, o Governo não
hesitou em delapidar o capital com que iniciou funções, dando cabo das pontes
que existiam e afastando sucessivamente interlocutores.
Este pecado original tem, no
entanto, motivos políticos. O espírito revolucionário da atual maioria, a
vontade de impor um programa de ruturas na sociedade portuguesa, extremou
posições e inviabilizou o diálogo. Desde a transição para a democracia que
Portugal não conhecia um Governo ao mesmo tempo tão incompetente e movido por
tamanho radicalismo programático. Agora, falhado o projeto de Passos Coelho, os
seus apelos ao diálogo não encontram eco.
Paradoxalmente, estes dois
anos acabaram por produzir um efeito positivo. A radicalização do Governo teve
como contraponto um aproximar de posições de muitos protagonistas políticos. De
tal forma que se hoje colocarmos lado a lado ex-ministros de Governos PSD/CDS e
PS as suas posições estão bem mais próximas, favorecendo a capacidade de
diálogo. Tem por isso razão Passos Coelho quando refere que 2014, com o fim do
programa de assistência, será o momento adequado para uma grande coligação. Uma
grande coligação de que ele não fará parte e que, aliás, ajudou a criar com o
seu radicalismo e a sua impreparação.
<< Home