Não temos mais oportunidades
Na semana passada, Passos Coelho, que é candidato a primeiro-ministro, patrocinou a apresentação de um livro de um professor, bastante crítico da política educativa. Na iniciativa, o autor fez saber que não havia ficado satisfeito com as propostas do programa eleitoral do PSD para o sector, no qual havia colaborado. Numa declaração insólita, Passos Coelho apressou-se a garantir que, perante a insatisfação, “iria melhorar o programa”.
Esta semana, em mais uma tentativa conseguida de introduzir ruído no seu próprio discurso, de novo perante uma audiência de professores, Passos Coelho não se coibiu de descrever o programa Novas Oportunidades como "uma credenciação à ignorância”, para depois ocupar os dias seguintes a reescrever o que havia dito.
Estas declarações revelam um padrão preocupante.
Há uma forte probabilidade de Passos Coelho vir a ser primeiro-ministro. Ora uma coisa básica que um candidato ao cargo devia saber é que, contrariamente ao que a língua-de-pau sugere, não se governa nenhum sector se nos deixarmos capturar pelos interesses da área. O líder do PSD deu um passo de gigante para ficar capturado pelos professores. Não tardará muito a pagar com juros elevados a ilusão de popularidade que agora julga conquistar.
Depois, o essencial. Existe um amplo consenso na sociedade portuguesa que vê nas baixas qualificações dos ativos um obstáculo sério à competitividade da nossa economia. Apesar do diagnóstico estar feito há tempo suficiente, nem por isso fomos capazes de ultrapassar este défice estrutural. Durante muitos anos, optou-se por uma resposta tímida que passou pelo reconhecimento e certificação de competências apenas até ao 9º ano. Entretanto, o país continuava preso ao seu atraso – se continuássemos a progredir ao ritmo a que progredíamos, nem dentro de cem anos recuperaríamos.
Daí a importância das Novas Oportunidades: a primeira tentativa, sustentada por forte vontade política, de reconhecer competências e qualificar ativos, procurando acelerar o ritmo de recuperação do nosso atraso educativo. Naturalmente que um programa que envolve mais de um milhão de pessoas tem problemas. Negá-lo seria um erro. Mas as Novas Oportunidades mostraram que era possível combinar uma estratégia para o futuro (cursos profissionais para jovens e redução do abandono precoce) com uma resposta que não fique à espera que a substituição geracional resolva os nossos défices de qualificações (reconhecendo competências e complementando formação). A forma como o programa foi recebido, com cerca de um milhão e meio de portugueses a candidatarem-se e envolvendo milhares de empresas, revela uma vontade de procurar o conhecimento bastante incomum na sociedade portuguesa.
Dir-me-ão que havia alternativas. Claro que sim, continuarmos a agir lentamente ou apostarmos numa estratégia competitiva assente nos baixos salários e na mão-de-obra pouco qualificada. Julgo que tem ficado provado não termos mais oportunidades para prosseguir qualquer uma destas duas vias.
publicado no Expresso de 21 de Maio
Esta semana, em mais uma tentativa conseguida de introduzir ruído no seu próprio discurso, de novo perante uma audiência de professores, Passos Coelho não se coibiu de descrever o programa Novas Oportunidades como "uma credenciação à ignorância”, para depois ocupar os dias seguintes a reescrever o que havia dito.
Estas declarações revelam um padrão preocupante.
Há uma forte probabilidade de Passos Coelho vir a ser primeiro-ministro. Ora uma coisa básica que um candidato ao cargo devia saber é que, contrariamente ao que a língua-de-pau sugere, não se governa nenhum sector se nos deixarmos capturar pelos interesses da área. O líder do PSD deu um passo de gigante para ficar capturado pelos professores. Não tardará muito a pagar com juros elevados a ilusão de popularidade que agora julga conquistar.
Depois, o essencial. Existe um amplo consenso na sociedade portuguesa que vê nas baixas qualificações dos ativos um obstáculo sério à competitividade da nossa economia. Apesar do diagnóstico estar feito há tempo suficiente, nem por isso fomos capazes de ultrapassar este défice estrutural. Durante muitos anos, optou-se por uma resposta tímida que passou pelo reconhecimento e certificação de competências apenas até ao 9º ano. Entretanto, o país continuava preso ao seu atraso – se continuássemos a progredir ao ritmo a que progredíamos, nem dentro de cem anos recuperaríamos.
Daí a importância das Novas Oportunidades: a primeira tentativa, sustentada por forte vontade política, de reconhecer competências e qualificar ativos, procurando acelerar o ritmo de recuperação do nosso atraso educativo. Naturalmente que um programa que envolve mais de um milhão de pessoas tem problemas. Negá-lo seria um erro. Mas as Novas Oportunidades mostraram que era possível combinar uma estratégia para o futuro (cursos profissionais para jovens e redução do abandono precoce) com uma resposta que não fique à espera que a substituição geracional resolva os nossos défices de qualificações (reconhecendo competências e complementando formação). A forma como o programa foi recebido, com cerca de um milhão e meio de portugueses a candidatarem-se e envolvendo milhares de empresas, revela uma vontade de procurar o conhecimento bastante incomum na sociedade portuguesa.
Dir-me-ão que havia alternativas. Claro que sim, continuarmos a agir lentamente ou apostarmos numa estratégia competitiva assente nos baixos salários e na mão-de-obra pouco qualificada. Julgo que tem ficado provado não termos mais oportunidades para prosseguir qualquer uma destas duas vias.
publicado no Expresso de 21 de Maio
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