A loucura de Março
Nos EUA, vive-se a ‘March madness’, os play-offs do campeonato de basketball universitário. O país tem estado suspenso por uma sucessão de jogos que disputam a atenção mediática com o Japão e Médio Oriente. Ninguém escapa ao assunto. Obama, parco em palavras sobre a intervenção na Líbia, fez uma declaração na qual explicou as suas apostas para finalistas; o Ministro da Educação discorreu sobre o desinvestimento de muitas equipas na componente escolar; e politólogos competem com análises sofisticadas baseadas numa realidade paralela, identificando comportamentos racionais e probabilidades de vitória. O exercício, aliás, tem um nome que lhe confere um carácter científico: ‘bracketology’.
A loucura aparenta ter um elemento de racionalidade. Para além das equipas que se qualificam através dos resultados na fase regular das suas divisões, há um complexo processo de seleção de outras equipas, feito por ‘peritos’. Não por acaso, discute-se tanto critérios como resultados desportivos. Mas no fim, mesmo com escolhas presidenciais e interpretações de politólogos, o que sobra é a subjectividade desportiva. Sem esse elemento de irracionalidade, não seria possível falar de loucura.
À distância, a sensação com que fico é que ‘a loucura de Março’ atravessou o Atlântico e instalou-se definitivamente em Portugal, mas com consequências materiais graves.
Na semana em que a Europa debatia uma solução sofrível, mas que pouparia o país a um desastre imediato, a opção foi inviabilizá-la. Estávamos à beira do precipício e, de braços dados, optámos por dar um passo em frente. As responsabilidades são repartidas.
O primeiro-ministro, após ter vencido a fase regular (eleições legislativas), revelou sempre dificuldades em promover mecanismos de cooperação com outras equipas e foi alimentando ilusões em relação às suas reais condições financeiras. No momento em que a dinâmica negativa parecia ter, finalmente, encontrado um apoio externo, avançou para um tudo ou nada definitivo, que deu aos seus adversários directos os incentivos de que estavam à espera.
O principal competidor (PSD), depois de ter ficado inconformado com o resultado da fase regular, aguardou o melhor momento para fazer uma ‘falta técnica’ (pregar uma ‘rasteira’) que não prejudicasse o objectivo central da equipa – levantar o pote, mesmo que vazio e sem que possa fazer algo de diferente com ele.
O árbitro, após ter acusado o líder da fase regular de escutar os seus planos, na tomada de posse, já em plenos play-offs, recusou os sacrifícios que sabia inevitáveis e deu o tiro de partida para a crise – colocando, uma vez mais, os interesses tácticos da sua posição à frente da garantia de que o jogo tinha condições mínimas para continuar a ser jogado.
Por mais leituras benévolas que se queira fazer, fica claro que o que move os vários intervenientes é, apenas, num acto de irracionalidade, em lugar de cooperar, defender a sua posição. No momento que atravessamos, trata-se, inequivocamente, de uma loucura. Com uma diferença, não é de um jogo que se trata.
artigo publicado no Expresso de 26 de Março
A loucura aparenta ter um elemento de racionalidade. Para além das equipas que se qualificam através dos resultados na fase regular das suas divisões, há um complexo processo de seleção de outras equipas, feito por ‘peritos’. Não por acaso, discute-se tanto critérios como resultados desportivos. Mas no fim, mesmo com escolhas presidenciais e interpretações de politólogos, o que sobra é a subjectividade desportiva. Sem esse elemento de irracionalidade, não seria possível falar de loucura.
À distância, a sensação com que fico é que ‘a loucura de Março’ atravessou o Atlântico e instalou-se definitivamente em Portugal, mas com consequências materiais graves.
Na semana em que a Europa debatia uma solução sofrível, mas que pouparia o país a um desastre imediato, a opção foi inviabilizá-la. Estávamos à beira do precipício e, de braços dados, optámos por dar um passo em frente. As responsabilidades são repartidas.
O primeiro-ministro, após ter vencido a fase regular (eleições legislativas), revelou sempre dificuldades em promover mecanismos de cooperação com outras equipas e foi alimentando ilusões em relação às suas reais condições financeiras. No momento em que a dinâmica negativa parecia ter, finalmente, encontrado um apoio externo, avançou para um tudo ou nada definitivo, que deu aos seus adversários directos os incentivos de que estavam à espera.
O principal competidor (PSD), depois de ter ficado inconformado com o resultado da fase regular, aguardou o melhor momento para fazer uma ‘falta técnica’ (pregar uma ‘rasteira’) que não prejudicasse o objectivo central da equipa – levantar o pote, mesmo que vazio e sem que possa fazer algo de diferente com ele.
O árbitro, após ter acusado o líder da fase regular de escutar os seus planos, na tomada de posse, já em plenos play-offs, recusou os sacrifícios que sabia inevitáveis e deu o tiro de partida para a crise – colocando, uma vez mais, os interesses tácticos da sua posição à frente da garantia de que o jogo tinha condições mínimas para continuar a ser jogado.
Por mais leituras benévolas que se queira fazer, fica claro que o que move os vários intervenientes é, apenas, num acto de irracionalidade, em lugar de cooperar, defender a sua posição. No momento que atravessamos, trata-se, inequivocamente, de uma loucura. Com uma diferença, não é de um jogo que se trata.
artigo publicado no Expresso de 26 de Março
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